segunda-feira, 27 de agosto de 2012

GUIA UMA RODA: CONHEÇA O MUNDO PELO FUNDO



            Em analogia à conhecida revista Guia 4 Rodas, surgiu a ideia deste pequeno opúsculo, que visa estabelecer um parâmetro higiênico, cultural e social dos mais recônditos locais do Brasil em face do que convencionamos a chamar de Banheiro, Mictório, WC, etc. Em outras palavras, trata-se de um guia de rodagem e conhecimento do Brasil através dos banheiros. Entenda-se o termo "rodagem" na acepção mais prosaica da palavra, ou seja, o velho ato, costume, vício e/ou mania de cagar, mijar, escarrar e/ou descascar a macaxeira propriamente dita.
            Parafraseando o Código dos Biriteiros, a base epistemológica deste guia é "A Teoria" de Ariano Suassuna: "qualquer motivo serve para cagar ou mijar". Para conhecer o Mundo Através do Fundo faz-se necessária muita coragem e ousadia, pois onde há aquele cheiro fedorento de ovo podre, há fungos e bactérias. Nesse ínterim, mijar, cagar ou descascar em um ambiente como esse passa a ser uma tarefa que necessita de muito sangue-frio, pois é a mesma coisa de oferecer o bilau ou o boga em sacrifício. Há, porém, uma restrição a temática, em virtude do amplo campo de incidência da pesquisa, mas partiremos pelo princípio da roda. O princípio da roda surge da premissa “A Bunda e a Bondade em Nome da Humanidade”, em que o cidadão pesquisador botará, literalmente, o seu rabo na reta em prol da humanidade.
            Urge estabelecer, portanto, uma classificação de categorias de banheiros ou mictórios de forma que não vingue, de maneira enviesada, a profecia aguinaldiana do “é de bolo”. Arquitetonicamente os banheiros não diferem muito uns dos outros, eis que sua finalidade básica é sempre a mesma: cagar, mijar e/ou descascar. Em termos de paisagismo já diferem um pouco, podendo apresentar diferenças no que tange às louças (para mijadas individuais ou coletivas), às caixas de descargas com a cordinha que nunca funciona, ao bocal sem lâmpada, ao ralo coletivo, ao papel higiênico (quando tem) esfola brega, ao espelho rachado, às portas da privada tem sempre a frase “quem comeu fulaninha marque um X”, enfim, as mais diversas animosidades possíveis.
            Há também banheiros ou mictórios que oferecem uma atração a mais, permitindo na mijada in loco uma certa alternativa de lazer. Alguns mictórios possuem bolinhas de naftalina no receptáculo urinário, onde o mijante se sente fortemente atraído em treinar a pontaria nas naftalinas, ficando até orgulhoso quando consegue inverter a posição das bolinhas num jato só. Há outros mictórios que são decorados com aquelas metades de limão que sobraram das caipirinhas, com o pequeno inconveniente de atrair aqueles mosquitinhos de privada que ficam revoando a cara do cidadão mijante.
            Nesse sentido, diante da vasta gama de ambientes urinários, há um parâmetro para classificação do Guia Uma Roda, que surge da convicção de cada um pesquisador em potencial, dividindo-se nas seguintes classes de banheiros (fundamentadas nas disposições da Lei N.° 51, de 12 de fevereiro de 2000, o Código dos Biriteiros):
            A – Os Uma Roda (Classificação Máxima):
            B – Os Uma Rodinha (Qualidade Média):
            C – Os Utilizáveis (Qualidade Identificável):
            D – Os Imundos (Qualidade Suspeita);
            E – Os Antagônicos (Sem Qualidade Alguma, também conhecido como Banheiro Puta Que Pariu – BPQP, bem como outros adjetivos não menos elucidativos).
            É impossível um ser humano não ter adentrado em recintos como esses, nem o mais pio e devotado seguidor da cátedra do francês afrescalhado “toilette”. Se a vida é adjetivosa eu não sei! Só sei que o mundo pode ser conhecido através do ofício bogal. É na estupenda arte de exorcizar um caboclo, no momento de homenagear uma gazela ou no singelo ato de mijar que descobrimos o quanto conhecemos o mundo.
            É justamente imbuído desse sentimento que lembramo-nos das vetustas palavras de Pranchú, quando da descoberta que a merda nos faz melhores justamente porque descobrimos o verdadeiro sentido da prudência:
“Antes de falar, ouça. Antes de agir, pense. Antes de desistir, tente. Antes de cagar, veja se tem papel!”

            Assim Falou Pranchú!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O FAST-FOOD DO SERTÃO



         Menino de feições lânguidas, subtraídas da rigidez do sertão nordestino, mais especificamente do sertão pernambucano (Caruaru – PE), que denotava forte apego às suas raízes e demais culturas da região. Sujeito simples, de sobrancelhas com ares de humildade, mas que na realidade não passava de pura modéstia, a exemplo de sua inteligência e capacidade escamoteada por meio de atos simplórios e singelos.
         Papalvo e sem malícia, o sujeito em tela restringia-se a fazer divagações inteligíveis e profundas acerca de coisas simples da vida. Mais especificamente, o nosso protagonista gostava de filosofar sobre o pão nosso de cada dia, não na acepção da labuta, mas no sentido gastronômico mesmo. Em suma, o homem só falava em comida.
         O Programa Governamental denominado Fome Zero, inclusive, teve a inspiração perpetrada pelas ações e divagações do nosso herói. Sem dúvidas, não há como negar que o meio onde vivia influenciou o nosso guerreiro sertanejo a pensar com o bucho. Todos os fatos o remetiam a uma analogia gastronômica, por exemplo: pensar com o bucho, como foi dito acima, para ele significava pensar depois de ter comido uma buchada. E por aí vai.
         Na verdade ele não se importava com o que iria comer, mas se iria comer. Ao contrário do que os legentes possam pensar, ele não era um retirante da seca, muito menos um necessitado qualquer ou um mendicante enviesado, mas um sujeito que tinha estudo universitário e uma posição social privilegiada.
         Falar de comida para ele, mais do que um hobby, era um fetiche mesmo. Na hora do sexo, por exemplo, o nosso herói comia pensando em comida. Na hora do alarido sexual, no ápice do prazer, o guerreiro gemia em voz alta: “cuscuz”, “cozido”, “buchada”, “carne-de-sol” e mais um tanto de outras iguarias. Até mesmo no início de sua carreira sexual, o nosso herói teve o seu intróito relacionado com a gastronomia. Basta dizer que ele comeu um bode e depois comeu o bode, fazendo o que poderíamos chamar de “ménage à trois” caprinos-gastronômico.
O nosso Gourmet sertanejo, no entanto, foi acometido por uma vicissitude do destino, qual seja, foi designado para laborar em metrópole muito distante de sua provinciana cidade. Ele foi designado para trabalhar na Capital Federal. Triste com o seu desiderato, o protagonista que ora se cuida resolveu exasperar ainda mais o seu lado filosófico-gastronômico, tornando-se ainda mais aficionado por “cu-linária”.
         Chegou à cidade grande feito matuto e ficava olhando obliquamente para cima e para baixo, coçava o queixo e fazia careta. Olhava para toda aquela poluição visual e relacionava tudo com um bom prato de comida. Como um bom retirante pós-moderno, era muito fácil deduzir que ele saiu do sertão, mas o sertão não saiu de dentro dele.
         Começou a trabalhar muito, chegando até mesmo a esquecer a sua tara quase que sexual por desígnios alimentícios. Mas o pior é que ele foi apresentado às guloseimas mais modernas, tais como as titicas do McDonald’s, Bob’s, Rabbib’s, Aídentro’s e demais iguarias ruminantes.
         Dentro de pouco tempo o nosso Gourmet passou a ter surtos psicóticos agudos que se manifestavam corriqueiramente. O negócio estava tão feio que ele foi obrigado a buscar ajuda profissional, encontrando na figura do Dr. Stênio Amâncio Bode o acalento para suas agruras.
         O Dr. Bode, profissional interdisciplinar, aplicava toda a sua vetusta psicologia no sentido de gabaritar melhor o fanfarrão do sertão. Insistiu tanto com a psicologia que incutiu na cabeça do nosso herói a seguinte frase: “dizes o que comes que direis o quadrúpede que és!”
         O nosso protagonista parecia se acalmar diante das anestesiantes frases do Dr. Bode. Parecia que estava se curando, quando repentinamente teve uma recaída por causa do próprio Dr. Bode. Não era prosaica aquela recaída, pois a figura do Dr. Bode passou a representar as lembranças de tenra infância do fanfarrão do sertão, ainda mais quando lembrava das comilanças d’outrora, no sentido gastronômico e sexual da palavra.
         Hoje em dia o nosso guerreiro, autointitulado como Fast-food do sertão, passou a ser um cabra mais evoluído e sempre impregnado do espírito culinário. Como não tem cura para a sua endemia pessoal, o único prognóstico do nosso herói é transformar a sua tara em panacéia de alegria. E é isso que o sicofanta sempre fez!
         As histórias do Fast-food Sertanejo me lembram as encíclicas pranchunianas entabuladas em épocas de bulimia, termo neológico onde o oco da barriga esbarra no deveras da fome, muito utilizado por modelos e afins em suas andanças pelo mundo.
Dizem que quem tem boca vai a Roma. Meu fogão tem quatro e nunca saiu da cozinha!

         Assim falou Pranchú!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DAS ANTIGAS E NOVAS TÁBUAS



- Essa é a sua baia!
            Talvez seja o entendimento moderno do novo âmbito de trabalho implantado sob os auspícios da dupla “eficiência-produção”, significado da nova era de trabalho, etc. Coisas de Eric Robsbawn e sua evolução trabalhista (Livro: A Era dos Extremos).
A baia que me foi apresentada nada mais era do que o meu local de trabalho, onde se localizava um computador, cercado por uma estrutura mista de fibra-madeira-vidro, com altura máxima de um metro e sessenta, posta de forma uniforme, uma ao lado da outra e aberta aos olhares dos transeuntes da empresa. Trata-se de uma nova filosofia urbana aplicada ao trabalho.
Em que pese o nobilíssimo sentimento de evolução, no momento da apresentação à baia fui tomado por um sentimento de involução. No fundo, me senti um verdadeiro jumento, na acepção mais ruminante da palavra, afinal, quem vive em baia é jumento. Pensei em refutar o epíteto do meu novo posto de trabalho, mas, como bom jumento, decidi abaixar as orelhas.
            No mesmo instante me veio à mente a razão de ser da intrigante baia. Ora, nada mais claro: um tapume moderno, em forma de boxe e que abriga um trabalhador mais eficiente. Não há como parar o trabalho, nem mesmo para acessar um site que não diga respeito à empresa, escrever um texto a esmo, dar uma lida em um jornal, verificar a contabilidade própria ou exercitar o espírito através de outra atividade. A eficiência da baia é fenomenal, coincidindo também com a eficiência da empresa.
            Nada mais justo, portanto, o fato da existência da baia. Mas o sentido em que se emprega o termo remete à conclusão da existência do jerico de carga moderno. Não é prosaica essa conclusão, uma vez que estamos trabalhando ao senhorio da empresa e em virtude da sua eficiência, só faltam os arreios, os alforjes e os estribos.
            Resolvi não aderir ao cognome moderno do meu lugar de trabalho, renomeando-o de “gabinete”, nobre designação d’outrora. Não obstante, quando fui atender o meu primeiro cliente, chamei-o para vir ao meu “gabinete” e, quando ele chegou na minha baia, sorriu e refutou com um sorriso sarcástico:
            - Sua baia! Né?
            Novamente o jumento patenteou-se do meu imaginário e pensou em emergir de forma bruta, mas atenuou o seu ímpeto diante do fato de que aquele convidado, em última instância, pagaria a alfafa do jerico, ou seja, o cliente tem sempre razão.
            - Digamos que essa seja a minha baia!
            Essa não seria definitivamente razão para a minha primeira espinafrada em âmbito profissional.
            Não contente com o episódio, resolvi cognominar o meu local de trabalho novamente, chamando-o agora de “saleta”. Outro cliente, porém, me fez a seguinte observação.
            - Eu pensava que “saleta” era uma sala pequena, mas não uma baia!
            A resposta estava pronta: “Quem fica em baia é jumento! E jumento que é jumento traz os outros para conhecer a sua taba!”
            Embora com a resposta na ponta da língua, realmente não valia a pena argumentar o contrário, afinal, quem ocupava a baia não era o cliente, era aquele jumento que pensava em contra argumentar.
            Novamente, percebi que o cognome do meu local de trabalho não poderia ser aquele, oportunidade em que o apelidei de novo, mas sempre aconteciam incidentes que me remetiam ao local de vivência asno, facilmente domesticável.
Resolvi, então, abstrair, me entregar ao sistema e aceitar a baia como o meu habitat natural. Para assegurar o meu consolo, comecei a observar que, quanto mais eu me incomodava com o nome do meu lugar de trabalho, mais eu me sentia um jumento. Portanto, que sejam aclamados os estábulos hodiernos e que possamos ruminar as novas tendências como bons asnos, afinal, bons asnos são muito difundidos no mundo e utilizados desde tempos imemoriais como animal de tração e carga, razão pela qual sempre terão a labuta garantida.
Esse pensamento, inclusive, me fez lembrar um prodigioso versículo adjetivado pelo profeta Pranchú, quando ensinava a arte de se manter incólume na ocasião da invasão de São José da Lagoa Tapada pelos fenícios:
“Malandro mesmo é o pardal, que canta mal só para não ficar na gaiola!”
Assim falou Pranchú.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

DO ESPIRITUOSO E DO PESADUME



            “Seria inverídica não fosse venérea!” Essa frase foi o alicerce de uma espirituosa tese jurídica, lastreada pelos pergaminhos pranchunianos, originária da sapiência e malandragem de um advogado lá da Paraíba, o Dr. Dalônio, amigo deste escriba e autor venéreo da citada. Sujeito com a presença de espírito mais rápida do velho oeste e nordeste, o Dr. Dalônio foi contratado para tirar uma conhecida empresa de Campina Grande de uma enrascada tão risível quanto onerosa, que poderia, inclusive, ter uma repercussão bastante negativa para a cidade.
            Há alguns anos, uma conhecida e prestigiada atriz global foi contratada para fazer um comercial para a TV Paraíba, afiliada da TV Globo em Campina Grande, interior paraibano. Antes, porém, de chegar à Serra da Borborema, a atriz decidiu fazer um breve turismo contemplativo em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Saiu da Praia de Pipa, passou por Ponta Negra, onde alisou o Morro do Careca, chegou em Pirangi, onde catou caju, e acabou-se em Genipabu, onde a rima é proibida! Em todo canto, acompanhada de seu namorado, registrou tudo em memoráveis fotografias, cuja lembrança talvez se estendesse mais do que se suporia.
            Ao chegar a Campina Grande, a moça decidiu revelar as fotos tiradas em terras potiguares, oportunidade em que se dirigiu à melhor empresa da cidade para tal intento. O dono da empresa, ao reconhecer de plano a atriz, lembrando-a da última novela das seis, decidiu guardar algumas fotos da moça. Dizia ele ser fã da atriz, mesmo que isso representasse ao menos sessenta anos de embate de gerações, considerando ser ele um dos inventores do lambe-lambe e ela uma atriz oriunda de Malhação.
            Pois bem, dois anos após a visita da atriz, o senhor lambe-lambe decidiu dar uma turbinada nos negócios, oportunidade em que utilizou as fotografias guardadas da atriz em uma peça publicitária na mesma TV Paraíba. Na propaganda, divulgada para toda a região de Campina Grande e alhures, a moça aparecia em uma foto retirada na praia de Genipabu, em cima de um jegue, e com uma linda paisagem ao fundo. Sonorizando a imagem, o locutor mandava o seguinte slogan: “Revele aqui e seja artista da sua vida!” E que artista esse lambe-lambe era!
            Depois de dois meses no ar, a propaganda foi obrigada a deixar de ser veiculada por determinação judicial e o senhor lambe-lambe instado judicialmente por meio de uma ação de danos morais e materiais ajuizada pela atriz. Como se diz na Paraíba, a pemba era gigante e calculada por meio de pesadas custas judiciais. Até aí, nada mais do que um causo judicial que não passaria dos corredores do Fórum Afonso Campos, em Campina Grande, competente para o feito, mas não era apenas isso!
            Desesperado ao receber a citação, carregada de zeros no cifrão, o ilustre empresário buscou contratar os melhores advogados da cidade. Em todos os contatos feitos, o prognóstico judicial era mesmo: fumus! Jargão latinístico que significava não só a perda provável do processo como uma jeba gigantesca nos cofres do senhor lambe-lambe. Como já sabia que a peixeira iria entrar no bucho dele até arriar todos os seus tostões, o espertalhão resolveu não gastar dinheiro com advogados caros e decidiu contratar um advogado menos dispendioso, o que não significa menos astuto. Foi nesse cenário que o Dr. Dalônio apareceu e foi contratado.
             Recebida a contestação, malgrada a proposta de acordo, o d. juízo cível da Comarca de Campina Grande agendou a audiência de instrução e julgamento, onde as partes finalmente se encontraram. A audiência, claro, foi cercada de muitos holofotes e todos os bons temperos de uma novela das nove. Iniciada a audiência, a atriz foi instada sobre a possiblidade de acordo, mas ela se mostrou bastante reticente com tal proposta porquanto tenha ficado ainda mais chateada com os termos apresentados pela defesa na ocasião de sua contestação.
            Naquele instante, o então réu, outrora nobilíssimo empresário campinense, olhou fulminantemente para o Dr. Dalônio, puxando-o pelo paletó e dizendo em voz baixa:
            - Que porra você colocou naquela merda de contestação?
            O Dr. Dalônio, aproveitando a deixa, pede a palavra ao douto juiz e explica:
            - Senhora atriz, não quero deixá-la desapontada, mas há um grande equívoco na sua ação. Ao contrário do que a senhora imagine, a foto divulgada pela empresa não quis utilizar a sua imagem, mas quis exaltar a imagem daquele que representa o grande motivo de orgulho e admiração do nordestino: o jegue. O jegue é objeto de verso, prosa e já foi cantado em diversas ocasiões, inclusive por filhos ilustres da região, como Genival Lacerda. O jegue carregou até mesmo Jesus Cristo! Lamento muito se a senhora saiu na foto, mas tenha certeza que a homenagem era para um filho da região.
            A intervenção do Dr. Dalônio foi exprimida com muito ressentimento e com gestos singelos, sendo uma interpretação muito mais convincente do que aquela que a própria atriz tentava fazer naquele instante. Aliás, todos os gestos da atriz eram tidos como mera interpretação. Os paparazzi paraibanos escutavam tudo nos corredores do fórum e replicavam diretamente na Rádio Campina FM (93,1), Panorâmica FM (97,3), Correio FM (98), Caturité AM (1050) e todas as demais rádios do sertão.
            Após a manifestação do Dr. Dalônio, o alarido tomou conta da sala de audiência. Era um misto entre a surpresa, a hesitação e a excitação, a favor ou contra a tese. Em todo caso, a gargalhada não conseguiu ficar de fora. O juiz não conseguia deixar de mostrar os dentes no canto da boca. O advogado da atriz não sorria, mas lacrimejava no afã de segurar a gargalhada. O escrivão e os demais presentes não se contiveram, até que a atriz pedisse a palavra para se manifestar novamente.
            - É doutor, devo ser uma jumenta mesmo, pois jamais deveria ter revelado as minhas fotos nesse fim de mundo!
            Pronto, a atriz cometeu o pecado mortal, qual seja, colocou todos daquele recinto contra ela, afinal todos eram residentes e domiciliados naquele fim de mundo, inclusive o próprio juiz. Daí pra frente, embora o direito da atriz fosse plausível, o ânimo em favor dela fenecia, assim como feneceu Odete Roitman, Nazaré, Perpétua, Laurinha Figueroa e tantas outras vilãs das novelas da Globo. De uma hora para a outra, não é que a tese do jegue começou a ser benquista!
            Pois bem, horas após o início da instrução, com o levante de uma verdadeira ode ao jegue e o direito de imagem da atriz indo para o saco, o senhor lambe-lambe, mormente réu no processo, olha para a atriz e propõe:
            - Te pago dez por cento do que você pediu para encerrarmos o processo, aceita?
             Com um pesadume sem tamanho, porém sem alternativa para o momento, a atriz aceitou a proposta. Acordo batido, assinado e sacramentado! A moça saiu e não desejou seque boa-tarde aos presentes. O senhor lambe-lambe ficou satisfeito com o acordo, pois saiu muito mais barato do que os honorários de qualquer advogado renomado da cidade.
            Entre mortos e feridos, o jegue se saiu verdadeiramente vencedor daquele embate judicial. O Dr. Dalônio, mesmo sem ganhar aquilo que realmente merecia, foi ovacionado pelos confrades e alçado como o verdadeiro pai do jegue, sem que isso o diminua profissionalmente. Ao ser questionado sobre a sua linha de defesa, o Dr. Dalônio sustentou a tese do jegue, com um sorriso pilantra e uma célebre encíclica pranchuniana:
            “- Seria inverídica não fosse venérea!”
           
            Assim falou Pranchú!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

DA SAUDADE DO “ANO”



            Ô sufixo saudoso é o tal do “ano”! Volta e meia lembro-me do gerúndio d’outrora conjugado com outras pequenas incorreções linguísticas. Lembro agora do sujeitinho arredio dizendo o nosso velho e tradicional gerúndio com a afável abstração de sempre:
            - Tô nem ligano!
            É a forma nominal do verbo conjugada pelo sufixo “ano”, arquétipo da terrinha do sol ardeno. São lembranças derivadas do velho hábito amistoso de ser, do intuitivo senhorio de cordel, da astúcia repentista, da malícia com sotaque forte, dos bebuns das branquinhas, da rapadura arretada, do bucho cheio de buchada, do alfarrábio valioso, da peixeira amolada na pedra e das demais reminiscências do sertão.
            Seria como se fizesse uma digressão ao tempo do pelego e do enfiteuta dos infernos em alguma cidadezinha do interior da Paraíba e alhures, remontando a fuleiragem e a munganga do sertanejo no ato de mangar do povo:
- Ôxe, tá ficano doido!
            Lembrança nostálgica dos bons tempos de neófito na enigmática arte de ficar ébrio sem brio, com os cachorros lambendo a boca do sujeito arriado no meio-fio. Das primeiras incursões etílicas no Bar do Cuscuz, no BarCaça, no Ceboleiro e todos os demais ambientes em que haja um copo de requeijão para servir a cerva. Ambientes lúdicos onde a poesia nos remetia ao nosso peculiar gerúndio, a exemplo da composição poético-publicitária encontrada no banheiro do bar chamado C.U. (Cantinho Universitário), em frente à Universidade Federal de Campina Grande-PB:
“Aqui tá terminano mais uma obra de um cuzinheiro!”
            A gente só consegue entender a saudade do sufixo “ano”, a exemplo do “trocadalho do carilho” acima, quando não mais o ouvimos em razão da distância da terrinha. Mas sempre encontramos alguns cabras de peste mundo afora que respeitam as origens. Foi o que aconteceu recentemente em plena Avenida W3, em Brasília, onde um gaúcho conversava com um paraibano enquanto os transeuntes ouviam:
-          Barbaridade, tchê! O que tu tens para comer neste farnel?
-          É o que homi? Que diacho tu tá falano? Tô entendeno não!
O gaúcho aponta com o queixo para a marmita do paraibano.
-          Ah, meu marmitex! Tem carne-de-sol com macaxeira de primeira, lá de Picuí, Paraíba! E o que tu tá carregano na matula?
-          Bah, não entendi o que tu perguntaste! Repete!
O paraibano, coçando o queiro meio sem paciência, diz:
-          perguntano o que tu tá carregano no tabaco desse saco? Ô bicho leso!
-          Não é tabaco, ô paraíba! Aliás, eu nem gosto de tabaco! Isso aqui é carne de veado assado, lá de Pelotas!
            O paraibano, meio intrigado, resmunga:
-          Ixe, num gosta de tabaco não, é? Mas bem que na carne de viado tu tá dano uns pega, né!
O gaúcho patenteou-se da cara de interrogação e tirou de tempo.
-          Barbaridade, tchê, paraibano tem um gerúndio que é difícil de entender!
Aquele colóquio me revigorava a alma e trazia à tona o meu aspecto mais sertanejo, denunciando o meu pedigree de origem paraibana (como diz o Bode Velho). Foi nesse momento que passei a entender que o gerúndio peculiar do nordeste diminui a forma brusca de pronunciar o verbo. É a maneira amena de expressar a forma nominal do verbo, diminuindo a dor da batida normal do gerúndio. Por exemplo, ao invés de dizer “tô bêbedo”, o cidadão diz “tô bebeno”, que, além de amenizar as últimas sílabas da frase, embriaga o sujeito simples.
Se o gerúndio nordestino não for compreendido, lembre-se das sábias palavras do filósofo Pranchú, quando vivia enrabichado com as mulheres embigodadas de São José da Lagoa Tapada:
Tô cagano e andano!
Ô saudade do “ano”!

Assim falou Pranchú!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

DA CIRCUNSPECÇÃO HUMANA



            Embora em primeira pessoa, esse é o relato de um sujeito que passou por uma situação bastante compassiva diante de alguns apertos na vida quotidiana. O nosso herói, mormente chamado Stênio Sérgio Tavares, relata uma ocasião que lhe exigiu bastante ponderação diante do imponderável. Sigamos em primeira pessoa!
            Vi o filósofo e aperreador de juízo Leandro, goiano de Anápisss, definir de forma subliminar a relação homem‑rapariga, termo de herança lusitana: "A relação entre os homens e a rapariga é o que há de mais sublime do amor, é o supra-sumo do romance: Só love!" E como eu vi love naquela quinta-feira insana, mas também vi o mundo rodar a bordo do Trovão-Azul, nome de guerra do Gol-bola mais veloz de Goianésia e alhures. Foi 360, 180 e 270, afinal de contas, quem não bebe não vê o mundo girar!!! A noite estava só no início!
        Começamos em um barzinho chamado “Azeite de Oliva”, ambiente tão bucólico quanto o nome depreende. Reunidos e sedentos estavam alguns amigos que trabalhavam como corretores de seguro, classe de trabalhadores mais velhaca da face da terra. Marcavam presença também as meninas que trabalhavam na corretora, chamadas carinhosamente de Apólices Vencidas, dada a periculosidade em que se apresentavam diante dos clientes e companheiros de trabalho.
            O Padre Celso, cliente da corretora, também deu uma passada para cumprimentar os companheiros sindicalizados e abençoar os amigos antes do Armagedon! Manifestou-se contra a esbórnia e contra a verdade que o cancioneiro cearense chama de “amor de rapariga”, objeto de discussão naquele momento. O padre debulhou o terço e capou o gato!
            Naquele momento as Apólices Vencidas, as antílopes do trabalho, se transformaram em verdadeiros seguros de vida, pelo menos naquele instante de êxtase etílica. Com o juízo e o bucho cheio de cerveja, chegou a hora de visitar a casinha e aliviar a bexiga. Na hora de extrair a carga, mais especificamente no exato momento da enobrecente mijada, senti algo estranho no ar. Era um misto entre a dúvida e a certeza. Mas, na dúvida, resolvi me aconselhar com o nobre Leandro em um ligeiro colóquio:
-          Meu fi, peido pesa?
-          Não!
-          Então, estou todo cagado!
            Com a dúvida inumada, resolvi me dirigir novamente ao mijadouro para tentar resolver o meu problema. Naquele momento percebi o quanto a mulher deve sofrer no simples ato de urinar em banheiros de boteco. Compulsando os autos e as calças, verifiquei que o meu receio havia se concretizado. Foi uma merda, literalmente!
            Sem muitas opções, fui obrigado a me livrar da última indumentária do homem em tempos de guerra, a cueca, que, diga-se de passagem, estava em fase de decomposição. Passei o esfola-boga nas partes íntimas e me dirigi à mesa dos sicofantas.
            No caminho entre o banheiro e a mesa senti uma sensação muito estranha, como se todas as pessoas me observassem. Não obstante a desconfiança das emanações voláteis que exaravam do banheiro em face da cueca abandonada, percebi que algo balançava e as pessoas tendiam a olhar.
            Desajeitado, premissa básica do desconfiado que fez alguma coisa de errado, sentei-me à mesa e pedi mais um chope, afinal sou filho de Deus e merecia uma recompensa por ter passado por uma sujeira daquela. Uma das gazelas que nos acompanhava olhou para mim e fez a famigerada pergunta:
            - Está tudo bem?
            Essa pergunta remetia à minha desconfiança sobre coisas que balançam e coisas que emanam odores, mas nada que me abalasse a confiança. Dei uma singela resposta à menina e pedi outro chope.
            A turma estava querendo ir para um forró no barzinho ao lado do recinto onde nós estávamos, oportunidade em que pediram a última rodada de chope e a conta. É nessas horas que democracia fica engraçada, quando vem um sujeito e pergunta:
-          Você vai?
            Ora, o cidadão não tem nem direito de argumentar sobre os motivos de ir àquele forró, já que o ambiente no boteco estava tão agradável. No entanto, vendo que a turma já estava decidida, refleti nas sábias e eternas palavras do filósofo Pranchú: “o que é um peido para quem está todo cagado?!” Naquela altura do campeonato, era muito!
            Desrespeitando as orientações do sábio Pranchú, resolvi ir ao forró. Não deu outra, no meio do borogodó senti que havia um vulcão em minha barriga e o seu magma estava preste a explodir no meu orifício rugoso. Foi naquele momento que senti a noite se esvair, da mesma forma que me esvai no W.C. daquela casa de forró e logo em seguida no recanto sossegado do banheiro de minha casa. No intervalo de tempo que ligava o banheiro da casa de forró para o banheiro da minha casa, deixei um rastro de destruição fecal por todo canto.
            Quando estava no banheiro da minha casa, entretanto, passei a refletir sobre os acontecimentos daquela noite e, de súbito, comecei a sorrir, lembrando das citações poéticas e prosopopéicas de Pranchú para um dia compassivo:
            "Para que levar a vida a sério, se nós nascemos de uma gozada!"
            Assim falou Pranchú.

A ARTE DO EMBUSTE


            Quem nunca ouviu falar em Joseph Hoineff de Logro? Nome difícil para descrever um sertanejo cheio de muganga e pabulagem! Nasceu em São José do Egito, cidade do interior de Pernambuco, e criou-se em São João do Cariri, município do cariri paraibano. Ainda jovem, mudou-se com a família para a cidade de Embu-Guaçu, região metropolitana da grande São Paulo, pois o seu pai havia passado em um concurso de juiz de direito naquela cidade. Esse foi o itinerário de Joseph até o momento em que nós nos conhecemos. 
            Sujeito introvertido, Zé do Embu, apelido que ganhara na época de neófito paulista, vivia em um mundo ensimesmado de falácias e proezas que cercavam o seu imaginário e que surpreendia quem o conhecia. A mentira, a calúnia e o embuste eram armas que manejava com a habilidade do mais refinado hipócrita retórico. Demonstrava-se um pouco envergonhado da sua história, embora fosse de uma bravura considerável, mas que, mesmo assim, jurou apagar com o seu futuro de devaneios as lembranças de seu passado na terra do São João, do Egito e do Cariri.

            De carregador da Graneiro à médico do posto de saúde, passando por padeiro à jogador de golfe, Zé do Embu afirmava que já havia sido um pouco. A mentira era algo que fazia parte de sua personalidade autista e enviesada. Confessava com sinceridade e candura de anjo a mentira mais deslavada do mundo. Não pestanejava nem diante do detector de mentiras e nem diante de um juiz, afinal, já estava acostumado com a série de embustes que fazia para seu próprio pai, que era juiz.
            As histórias de Zé do Embu, diziam os colegas de faculdade, eram baseadas em baseados. Uma espécie de psicotrópico eloquente de embuste, uma verborragia falaciosa para os que não o conheciam. Para o Zé, havia uma linha divisória muito tênue entre a emoção e a pieguice, entre o talento e o embuste, entre a inteligência e a tolice.
            Se a conversa debandasse para uma simples discussão sobre esporte, algo sobre o último jogo entre a Treze x Campinense2, o sujeito encetava um monólogo despropositado sobre esportes radicais. Era uma mistura de salto de pára-quedas nas Colinas de Golan, mergulho com os tubarões javaneses na Polinésia Francesa, surf noturno na Ilha da Páscoa, salto duplo twist carpado em Acapulco, Bungee Jump invertido na “CN Tower” em Toronto, apnéia com as baleias azuis em Abrolhos, entre outros entrefeches. A falácia não era singela, era internacional mesmo. Para um sujeito mal diagramado que saiu de Pernambuco, não era fácil supor que tudo aquilo não passava de engodo, mas era hilário ver a ginástica imaginativa dele.
            A situação já estava ficando crônica. A mentira perpassava pelos mais diversos ramos do saber científico, começava pela matemática, enveredava-se pela geografia, sacudia-se pela história e acabava na biologia. Era uma mentira catedrática! Quando o assunto era dor de cabeça, por exemplo, o sujeito encetava o monólogo da cefaléia, nome pedante para o assunto, mas que o fazia criar fábulas dantescas sobre o tema. Se um colega contasse que a dor de cabeça que sentia era grande, ele rebatia que a sua era ainda maior, chegando a amolecer a moleira. Se alguém falasse que um dia teve uma dor de barriga homérica, ele enfatizava que ainda hoje tem sequelas intestinais causadas por uma dor de barriga acometida na sua última viajem à Holanda. Se outro colega narrasse uma história de corrida de carros, ele minimizava a sua participação no Rali Paris-Dakar.
            Porém, se a conversa se inclinasse para tradições familiares, ele se empolgava com as possibilidades, começando pela descendência dinamarquesa, perpassando pelo pedigree austríaco, com algumas raízes francesas, canadenses e norte-americana, chegando à origem tupiniquim imediata por intermédio de seus avós espanhóis, vindo do sul de Portugal, ora pois! Se perguntasse efetivamente qual era a sua origem, a resposta certamente dependeria da data festiva que estavam comemorando naquele dia. Ele era o próprio calendário do ludíbrio. Se brincasse, ele era até mesmo descendente direto de Nosso Senhor Jesus Cristo! Ave Maria!
            Certa vez, um colega, que já não aguentava mais tanto embuste, traçou um perfil jornalístico-literário do pabuloso Joseph, atribuindo uma frase que ficara escrita nos anais do sicofanta: “objetividade é uma patifaria!” Por que falar a verdade? Ora, para Joseph, ou Zé do Embu, a mentira e a verdade não se distanciavam em centímetros, pois a equidistância desses pontos exige medições de outra ordem. Porções, proporções e desproporções eram os assuntos tratados pelo velho Zé do Embu, potencializando as suas caricaturas de racionalidade.
            Ele não era um embusteiro simplesmente, pois não se poderia reduzir a sua figura aos fenômenos acontecidos com ele, pelo menos em sua narração. Ele era detentor de uma arte peculiar, de um instinto sagaz, de um pensamento rápido, de uma eloquência contumaz, enfim, ele é um dos precursores do que um dia viria a ser chamado de “arte do embuste”. Não era qualquer pessoa que tinha o lampejo imediato de embusteira como ele.
            Se embuste fosse dinheiro, o vetusto Zé seria milionário! Se embuste fosse profissão, o Zé seria o profissional exemplar. Se embuste fosse esporte, o Zé seria o melhor atleta. Se embuste fosse arma, o Zé seria o Rambo. Se embuste fosse piada, o Zé seria palhaço no Cirque du Soleil. Mas, e se embuste fosse uma mera ilusão, o que seria o Zé? Seria o mágico de uma realidade que todos querem ouvir. É isso mesmo, os embustes do Zé não passavam de troças motivadas pelo desejo de ridicularizar e enxovalhar àqueles que não iriam dar a mínima para a sua história. Ser embusteiro para ele era uma forma de autodefesa.
            A sua constatação sobre a realidade era algo que já fazia parte de seu espírito, chegando até mesmo às raias da verdade. Bem, pelo menos para ele! O sujeito mentia tanto que chegava facilmente a acreditar no que contava. Mas não havia como ficar chateado com o Zé, pois o seu embuste era algo que já estava arraigado em sua própria etimologia, afinal, já trazia o embuste no sobrenome (Logro = Embuste) e no apelido (Zé do Embu = Embuste), ou seja, a mentira já era familiar.
            Enfim, se um dia qualquer cidadão encontrar com um Zé do Embu da vida e o mote da conversa for a própria “mentira”, certamente esse sujeito dirá:
            - Bem, não sou afeto a esse tipo de conversa!
            Esse é realmente um embusteiro de fé. O fato, porém, é que embuste para alguns é tempero e insumo para a vida, afinal, como diria o vetusto Pranchú:
            “É fazendo e falando muita merda que se aduba a vida!”
            Assim falou Pranchú!


Referências:

1. Texto originalmente intitulado O embusteiro de fé.
2. Clássico futebolístico na Serra da Borborema, lá em Campina Grande.