Menino de
feições lânguidas, subtraídas da rigidez do sertão nordestino, mais
especificamente do sertão pernambucano (Caruaru – PE), que denotava forte apego
às suas raízes e demais culturas da região. Sujeito simples, de sobrancelhas
com ares de humildade, mas que na realidade não passava de pura modéstia, a
exemplo de sua inteligência e capacidade escamoteada por meio de atos
simplórios e singelos.
Papalvo e
sem malícia, o sujeito em tela restringia-se a fazer divagações inteligíveis e
profundas acerca de coisas simples da vida. Mais especificamente, o nosso
protagonista gostava de filosofar sobre o pão nosso de cada dia, não na acepção
da labuta, mas no sentido gastronômico mesmo. Em suma, o homem só falava em
comida.
O Programa Governamental
denominado Fome Zero, inclusive, teve a inspiração perpetrada pelas ações e
divagações do nosso herói. Sem dúvidas, não há como negar que o meio onde vivia
influenciou o nosso guerreiro sertanejo a pensar com o bucho. Todos os fatos o
remetiam a uma analogia gastronômica, por exemplo: pensar com o bucho, como foi
dito acima, para ele significava pensar depois de ter comido uma buchada. E por
aí vai.
Na verdade
ele não se importava com o que iria comer, mas se iria comer. Ao contrário do
que os legentes possam pensar, ele não era um retirante da seca, muito menos um
necessitado qualquer ou um mendicante enviesado, mas um sujeito que tinha
estudo universitário e uma posição social privilegiada.
Falar de
comida para ele, mais do que um hobby, era um fetiche mesmo. Na hora do sexo,
por exemplo, o nosso herói comia pensando em comida. Na hora do
alarido sexual, no ápice do prazer, o guerreiro gemia em voz alta: “cuscuz”,
“cozido”, “buchada”, “carne-de-sol” e mais um tanto de outras iguarias. Até mesmo
no início de sua carreira sexual, o nosso herói teve o seu intróito relacionado
com a gastronomia. Basta dizer que ele comeu um bode e depois comeu o bode,
fazendo o que poderíamos chamar de “ménage à trois”
caprinos-gastronômico.
O nosso Gourmet sertanejo, no
entanto, foi acometido por uma vicissitude do destino, qual seja, foi designado
para laborar em metrópole muito distante de sua provinciana cidade. Ele foi
designado para trabalhar na Capital Federal. Triste com o seu desiderato, o
protagonista que ora se cuida resolveu exasperar ainda mais o seu lado
filosófico-gastronômico, tornando-se ainda mais aficionado por “cu-linária”.
Chegou à
cidade grande feito matuto e ficava olhando obliquamente para cima e para
baixo, coçava o queixo e fazia careta. Olhava para toda aquela poluição visual
e relacionava tudo com um bom prato de comida. Como um bom retirante
pós-moderno, era muito fácil deduzir que ele saiu do sertão, mas o sertão não
saiu de dentro dele.
Começou a
trabalhar muito, chegando até mesmo a esquecer a sua tara quase que sexual por
desígnios alimentícios. Mas o pior é que ele foi apresentado às guloseimas mais
modernas, tais como as titicas do McDonald’s, Bob’s, Rabbib’s, Aídentro’s e
demais iguarias ruminantes.
Dentro de
pouco tempo o nosso Gourmet passou a ter surtos psicóticos agudos que se
manifestavam corriqueiramente. O negócio estava tão feio que ele foi obrigado a
buscar ajuda profissional, encontrando na figura do Dr. Stênio Amâncio Bode o
acalento para suas agruras.
O Dr. Bode,
profissional interdisciplinar, aplicava toda a sua vetusta psicologia no
sentido de gabaritar melhor o fanfarrão do sertão. Insistiu tanto com a
psicologia que incutiu na cabeça do nosso herói a seguinte frase: “dizes o
que comes que direis o quadrúpede que és!”
O nosso
protagonista parecia se acalmar diante das anestesiantes frases do Dr. Bode.
Parecia que estava se curando, quando repentinamente teve uma recaída por causa
do próprio Dr. Bode. Não era prosaica aquela recaída, pois a figura do Dr. Bode
passou a representar as lembranças de tenra infância do fanfarrão do sertão,
ainda mais quando lembrava das comilanças d’outrora, no sentido gastronômico e
sexual da palavra.
Hoje em dia
o nosso guerreiro, autointitulado como Fast-food do sertão, passou a ser
um cabra mais evoluído e sempre impregnado do espírito culinário. Como não tem
cura para a sua endemia pessoal, o único prognóstico do nosso herói é
transformar a sua tara em panacéia de alegria. E é isso que o sicofanta sempre
fez!
As histórias
do Fast-food Sertanejo me lembram as
encíclicas pranchunianas entabuladas em épocas de bulimia, termo neológico onde
o oco da barriga esbarra no deveras da fome, muito utilizado por modelos e
afins em suas andanças pelo mundo.
Dizem que quem tem boca vai a Roma. Meu fogão tem quatro e nunca saiu
da cozinha!
Assim falou Pranchú!
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