
Pranchú,
em uma de suas solitárias peregrinações, fazia um breve descanso próximo a um
conhecido convento localizado nas cercanias de Lagoa Seca, região localizada no
brejo paraibano. Ao descansar reservadamente em baixo de um pé-de-castanhola,
Pranchú observou uma cena bastante inusitada e que, ao par de suas reflexões, germinaria
uma curiosa filosofia.
Um casal de noivos, devidamente paramentado,
saiu da Gruta Virgem dos Pobres e dirigiu-se para o Convento, conhecido como
Ipuarana. Uma hora depois, o casal saiu do convento e encaminhou-se para um frondoso
bosque que ficava próximo, local onde havia uma espécie de altar e alguns
troncos de madeira. Naquele instante, os noivos sacaram dois cálices,
proferiram alguns juramentos, beberam o vinho e, em seguida, quebraram os
copos, como sendo uma espécie de cerimônia restrita e bastante circunspeta. Em
seguida, o casal de noivos saiu do bosque e, por acaso do destino, se depararam
com o onipresente Pranchú.
Tomado
de assalto e felicidade por encontrar o conhecido filósofo, sobretudo em um
momento tão especial, o casal aproveitou o ensejo para agradecer ao destino e
solicitar que o mestre concedesse uma bênção ao novo par, rogando que lhes
fossem bridados com votos de eterna felicidade.
-
Oh, mestre Pranchú, vistes que casamos à luz de Deus e, agora que sacramentamos
o nosso amor, pergunto: como fazer para que o nosso amor seja eterno?
-
Que vocês sejam felizes por quanto tempo durar o amor!
-
Mestre, o senhor deseja que sejamos felizes enquanto o amor durar? Ora, e isso
tem prazo de validade? Assim não, só se for para a vida toda!
-
Meus queridos, que tipo de casamento foi esse que vocês acabaram de realizar?
O
noivo responde:
-
Um casamento bem pessoal em que juntamos a nossa fé e algum significado do
casamento judaico, como a quebra de copos como uma promessa de amor eterno! Não
seria isso, mestre?
-
Não, meus jovens, vocês acabaram de celebrar um casamento Wicca[1].
Trata-se de uma religião relacionada a rituais ligados ao campo e à natureza,
sendo uma forma de agradecimento e oferenda aos deuses que já existiram. A
promessa do casamento Wicca é “por quanto
tempo durar o amor”, em vez da tradicional promessa cristã de que “até que a morte nos separe”.
A
noiva, um pouco atônita, questiona novamente ao mestre:
-
Ora, mestre, mas como fazer para que o nosso amor seja eterno?
E
o mestre responde:
-
O amor pode morrer em vida ou transcender a morte. A sua medida não é a eternidade,
mas a sua própria existência. Que seja eterno enquanto dure!
As
palavras de Pranchú não foram bem aquelas que os noivos gostariam de ouvir, mas
eles agradeceram e seguiram o caminho. Certamente eles iriam aprender à duras
penas o que o filósofo quis repassar. Em todo caso, antes de saírem, Pranchú
fez uma breve retificação em sua homilia, passando à conotação mais libertina
do casamento:
“-
A vida de casado é muito boa, só perde para a de solteiro. Sendo assim, que
seja eterno enquanto dura!”
Assim
falou Pranchú!
[1]. Wicca é uma religião neopagã influenciada por crenças pré-cristãs e práticas da Europa
ocidental que afirma a existência do poder sobrenatural (como amagia) e os
princípios físicos e espirituais masculinos e femininos que interam a natureza, e que celebra os ciclos
da vida e os festivais
sazonais, conhecidos como Sabbats,
os quais ocorrem, normalmente, oito vezes por ano.
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