quinta-feira, 3 de julho de 2014

O CASAMENTO WICCA





            Pranchú, em uma de suas solitárias peregrinações, fazia um breve descanso próximo a um conhecido convento localizado nas cercanias de Lagoa Seca, região localizada no brejo paraibano. Ao descansar reservadamente em baixo de um pé-de-castanhola, Pranchú observou uma cena bastante inusitada e que, ao par de suas reflexões, germinaria uma curiosa filosofia.
             Um casal de noivos, devidamente paramentado, saiu da Gruta Virgem dos Pobres e dirigiu-se para o Convento, conhecido como Ipuarana. Uma hora depois, o casal saiu do convento e encaminhou-se para um frondoso bosque que ficava próximo, local onde havia uma espécie de altar e alguns troncos de madeira. Naquele instante, os noivos sacaram dois cálices, proferiram alguns juramentos, beberam o vinho e, em seguida, quebraram os copos, como sendo uma espécie de cerimônia restrita e bastante circunspeta. Em seguida, o casal de noivos saiu do bosque e, por acaso do destino, se depararam com o onipresente Pranchú.
            Tomado de assalto e felicidade por encontrar o conhecido filósofo, sobretudo em um momento tão especial, o casal aproveitou o ensejo para agradecer ao destino e solicitar que o mestre concedesse uma bênção ao novo par, rogando que lhes fossem bridados com votos de eterna felicidade.
            - Oh, mestre Pranchú, vistes que casamos à luz de Deus e, agora que sacramentamos o nosso amor, pergunto: como fazer para que o nosso amor seja eterno?
            - Que vocês sejam felizes por quanto tempo durar o amor!
            - Mestre, o senhor deseja que sejamos felizes enquanto o amor durar? Ora, e isso tem prazo de validade? Assim não, só se for para a vida toda!
            - Meus queridos, que tipo de casamento foi esse que vocês acabaram de realizar?
            O noivo responde:
            - Um casamento bem pessoal em que juntamos a nossa fé e algum significado do casamento judaico, como a quebra de copos como uma promessa de amor eterno! Não seria isso, mestre?
            - Não, meus jovens, vocês acabaram de celebrar um casamento Wicca[1]. Trata-se de uma religião relacionada a rituais ligados ao campo e à natureza, sendo uma forma de agradecimento e oferenda aos deuses que já existiram. A promessa do casamento Wicca é “por quanto tempo durar o amor”, em vez da tradicional promessa cristã de que “até que a morte nos separe”.
            A noiva, um pouco atônita, questiona novamente ao mestre:
            - Ora, mestre, mas como fazer para que o nosso amor seja eterno?
            E o mestre responde:
            - O amor pode morrer em vida ou transcender a morte. A sua medida não é a eternidade, mas a sua própria existência. Que seja eterno enquanto dure!
            As palavras de Pranchú não foram bem aquelas que os noivos gostariam de ouvir, mas eles agradeceram e seguiram o caminho. Certamente eles iriam aprender à duras penas o que o filósofo quis repassar. Em todo caso, antes de saírem, Pranchú fez uma breve retificação em sua homilia, passando à conotação mais libertina do casamento:
            “- A vida de casado é muito boa, só perde para a de solteiro. Sendo assim, que seja eterno enquanto dura!”

            Assim falou Pranchú!


[1]. Wicca é uma religião neopagã influenciada por crenças pré-cristãs e práticas da Europa ocidental que afirma a existência do poder sobrenatural (como amagia) e os princípios físicos e espirituais masculinos e femininos que interam a natureza, e que celebra os ciclos da vida e os festivais sazonais, conhecidos como Sabbats, os quais ocorrem, normalmente, oito vezes por ano.


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