Pranchú andou por desertos áridos e florestas úmidas. Conheceu homens e mulheres simples, de pouco conhecimento, e argumentou com sábios detentores de conhecimentos milenares. Descrevemos aqui a incrível passagem de Pranchú pelo antigo templo de Delphos , na Grécia, onde proseou com os filósofos glutões.
Pranchú chegu a Delphos e passando pelas ruelas da cidade começou a escutar um burburinho sobre sua presença ali. Os locais comentavam "quem é esta figura de chapéu de couro ?" ou "de onde veio o forasteiro com uma peixera * ?". Apesar da antiga Grécia ser cosmopolita sempre um estranho era notado e sua reputação posta em dúvida. Todos queriam saber de onde vinha aquele indivíduo, se era o mesmo do qual se falava que respondia com destreza às questões mais complexas da natureza humana. Os comentários sobre a presença de Pranchú chegaram ao conselho dos Filósofos Glutões, sábios que regiam as leis por ali e debatiam sobre as questões cruciais daquela já tão avançada sociedade. Passavam o dia em um templo dedicado a eles mesmo, discutindo, comendo e bebendo.
Através de um moleculah ** Pranchú foi avisado que um convite lhe fora feito para jantar com os sábios do conselho. O garoto de recados esperou que Pranchú desse uma baforada no seu cigarro pé de burro. Pranchú cuspiou em uma escarradeira de porcelana próxima e disse: "volta lá, abestado, e diz que na hora da Ave Maria eu chego". O moleque correu de volta para o templo e anunciou a boa nova.
Entretanto a intenção dos sábios não era das melhores. Cientes do poder intelectual do forasteiro sentiram medo, pois assim são os homens de poder. Arquitetaram então planos para que o mesmo fosse humilhado a qualquer custo. Para eles Pranchú não poderia se sobressair nas discussões pois os filósofos seriam desmoralizados e seu poder, baseado na ignorância alheia, seria naturalmente descreditado, gradualmente destituído. As horas passaram e o coral de crianças castrati entoaram a Ave Maria no coreto da praça principal em frente à igreja matriz.
Os filósofos sentaram à mesa a espera de seu conviva. Um bode seria sacrificado e uma buchada com fios dourados lhe seria oferecida. Vinhos das vinículas mais nobres foram postos na adega principal e até mesmo uma bebida destilada de origem desconhecida chamada 51 A.C. foi trazida para o grande evento. Transeuntes pararam em frente ao templo e começavam a se acotovelar para pegar um lugar de onde conseguissem escutar o debate. Tal embate seria histórico e tinham tanta razão que hoje estamos aqui revisitando estas páginas amareladas da História.
Pranchú chegou ao templo e pouco a pouco as pessoas abriam espaço para o caminho rumo à mesa. Lá estavam todos os filósofos, seis ao todo, conversando entre si e fingindo não perceberem o convidado entrar, pois assim são os arrogantes. Pranchú chegou à beira da mesa e se apresentou dizendo:
Ôpa !
Os filósofos se entreolharam censurando as palavras econômicas daquele que disseram ser um sábio. Esperavam uma introdução formal, talvez até uma poesia ressaltando seus próprios feitos. Mas não. Entretanto Pranchú quebrou o breve silêncio com uma pergunta:
Será que rola uma cachacinha ?
Desta vez os sabios não apenas se entreolharam, mas também começaram a comentar , todos juntos, sobre o que seria aquela figura misteriosa. E ainda mais: o que seria "uma cachacinha" ? Seria alguma espécie de embate verbal ? Físico ? Seria uma ofensa ? Um elogio ? Ao ver a dúvida no ar Pranchú desfez o mistério dizendo em voz alta:
Vocês deixem de frescura e me passem aquela garrafa de 51 que eu tô com uma sede arretada ...
Um serviçal foi chamado para servir o forasteiro que lhe tomou a garrafa retirando a rolha com os dentes. Sorveu o líquido desconhecido em goladas consistentes. Quando Pranchú deixou a garraffa na mesa um rapaz cheirou o conteúdo da mesma e caiu no chão desacordado, sendo socorrido pelos demais serviçais. Tal bebida não era para neófitos.
Pranchú sentou-se e passou em revista todos os filósofos. Sábio que é sentiu o clima de cilada mas ficou tranquilo, pois assim são os guerreiros. Foi quando um filósofo dentre os seis, talvez o mais velho, se dirigiu a Pranchú dizendo:
Oh forasteiro vindouro de terras desconhecidas, o que trazes de oferenda para este jantar ? Ou é de costume de teu povo chegar à uma mesa sem nada trazer ?
Toda a mesa estrondou em uma volumosa gargalhada. Pranchú deixou o silencio lhe dar a vez da palavra respondendo à pergunta com outra:
E vocês tão liso é ? Tão procurando um macho pra lhes sustentar ? Ô careca me passa esse pedaço de pão aí pra eu tirar o ranso dessa cachaça.
Os filósofos se calaram e alguns levantaram as sobrancelhas surpresos, mas o povo que via de fora o desenrolar da cena gargalhou com tamanha audácia daquele homem simples. Perceberam que Pranchú estando à mesa era como se cada um deles estivesse ali comendo e bebendo do melhor, fazendo desfeita dos bossais.
Um outro filósofo limpou a garganta e um pouco mais comedido perguntou:
Oh forasteiro desconhecido, de onde vens, para onde vais e o que fazes aqui ?
Pranchú com a boca cheia de pão respondeu:
Vim falar com sua mãe e vou embora com sua irmã ...
A esta altura do "debate" o povo já estava em polvorosa , vibrando muito e quase invadindo o templo para melhor escutar aquele que veio de longe e que com poucas palavras constrangia tantos sábios de uma só vez. Ao perceber que a situação lhe estava desfavorável um dos filósofos colocou a mão na perna de Pranchú e disse:
Vou te lançar um enigma, e tal qual a Esfinge, decifra-me ou te devoro ...
Foi aí que Pranchú sacou da sua peixera e com as costas da lâmina tirou a mão do desafiante de sua perna, proferindo:
Já entendi tudo ! Vocês são tudo é peroba ! Ficam aí tudo enfurnado nessa loca aqui trocando o fio fó ! É como digo:
"Diga-me com quem andas que te direi quem comes"
Assim falou Pranchú !
Dizem que após a passagem de Pranchú os princípios da democracia contagiaram os populares gregos ...
* faca amolada pra dedéu
** Moleculah palavra de origem árabe que significa: moleque , vai aculá, por Alah !
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