segunda-feira, 27 de agosto de 2012

GUIA UMA RODA: CONHEÇA O MUNDO PELO FUNDO



            Em analogia à conhecida revista Guia 4 Rodas, surgiu a ideia deste pequeno opúsculo, que visa estabelecer um parâmetro higiênico, cultural e social dos mais recônditos locais do Brasil em face do que convencionamos a chamar de Banheiro, Mictório, WC, etc. Em outras palavras, trata-se de um guia de rodagem e conhecimento do Brasil através dos banheiros. Entenda-se o termo "rodagem" na acepção mais prosaica da palavra, ou seja, o velho ato, costume, vício e/ou mania de cagar, mijar, escarrar e/ou descascar a macaxeira propriamente dita.
            Parafraseando o Código dos Biriteiros, a base epistemológica deste guia é "A Teoria" de Ariano Suassuna: "qualquer motivo serve para cagar ou mijar". Para conhecer o Mundo Através do Fundo faz-se necessária muita coragem e ousadia, pois onde há aquele cheiro fedorento de ovo podre, há fungos e bactérias. Nesse ínterim, mijar, cagar ou descascar em um ambiente como esse passa a ser uma tarefa que necessita de muito sangue-frio, pois é a mesma coisa de oferecer o bilau ou o boga em sacrifício. Há, porém, uma restrição a temática, em virtude do amplo campo de incidência da pesquisa, mas partiremos pelo princípio da roda. O princípio da roda surge da premissa “A Bunda e a Bondade em Nome da Humanidade”, em que o cidadão pesquisador botará, literalmente, o seu rabo na reta em prol da humanidade.
            Urge estabelecer, portanto, uma classificação de categorias de banheiros ou mictórios de forma que não vingue, de maneira enviesada, a profecia aguinaldiana do “é de bolo”. Arquitetonicamente os banheiros não diferem muito uns dos outros, eis que sua finalidade básica é sempre a mesma: cagar, mijar e/ou descascar. Em termos de paisagismo já diferem um pouco, podendo apresentar diferenças no que tange às louças (para mijadas individuais ou coletivas), às caixas de descargas com a cordinha que nunca funciona, ao bocal sem lâmpada, ao ralo coletivo, ao papel higiênico (quando tem) esfola brega, ao espelho rachado, às portas da privada tem sempre a frase “quem comeu fulaninha marque um X”, enfim, as mais diversas animosidades possíveis.
            Há também banheiros ou mictórios que oferecem uma atração a mais, permitindo na mijada in loco uma certa alternativa de lazer. Alguns mictórios possuem bolinhas de naftalina no receptáculo urinário, onde o mijante se sente fortemente atraído em treinar a pontaria nas naftalinas, ficando até orgulhoso quando consegue inverter a posição das bolinhas num jato só. Há outros mictórios que são decorados com aquelas metades de limão que sobraram das caipirinhas, com o pequeno inconveniente de atrair aqueles mosquitinhos de privada que ficam revoando a cara do cidadão mijante.
            Nesse sentido, diante da vasta gama de ambientes urinários, há um parâmetro para classificação do Guia Uma Roda, que surge da convicção de cada um pesquisador em potencial, dividindo-se nas seguintes classes de banheiros (fundamentadas nas disposições da Lei N.° 51, de 12 de fevereiro de 2000, o Código dos Biriteiros):
            A – Os Uma Roda (Classificação Máxima):
            B – Os Uma Rodinha (Qualidade Média):
            C – Os Utilizáveis (Qualidade Identificável):
            D – Os Imundos (Qualidade Suspeita);
            E – Os Antagônicos (Sem Qualidade Alguma, também conhecido como Banheiro Puta Que Pariu – BPQP, bem como outros adjetivos não menos elucidativos).
            É impossível um ser humano não ter adentrado em recintos como esses, nem o mais pio e devotado seguidor da cátedra do francês afrescalhado “toilette”. Se a vida é adjetivosa eu não sei! Só sei que o mundo pode ser conhecido através do ofício bogal. É na estupenda arte de exorcizar um caboclo, no momento de homenagear uma gazela ou no singelo ato de mijar que descobrimos o quanto conhecemos o mundo.
            É justamente imbuído desse sentimento que lembramo-nos das vetustas palavras de Pranchú, quando da descoberta que a merda nos faz melhores justamente porque descobrimos o verdadeiro sentido da prudência:
“Antes de falar, ouça. Antes de agir, pense. Antes de desistir, tente. Antes de cagar, veja se tem papel!”

            Assim Falou Pranchú!

Nenhum comentário:

Postar um comentário