segunda-feira, 23 de julho de 2012

DA CIRCUNSPECÇÃO HUMANA



            Embora em primeira pessoa, esse é o relato de um sujeito que passou por uma situação bastante compassiva diante de alguns apertos na vida quotidiana. O nosso herói, mormente chamado Stênio Sérgio Tavares, relata uma ocasião que lhe exigiu bastante ponderação diante do imponderável. Sigamos em primeira pessoa!
            Vi o filósofo e aperreador de juízo Leandro, goiano de Anápisss, definir de forma subliminar a relação homem‑rapariga, termo de herança lusitana: "A relação entre os homens e a rapariga é o que há de mais sublime do amor, é o supra-sumo do romance: Só love!" E como eu vi love naquela quinta-feira insana, mas também vi o mundo rodar a bordo do Trovão-Azul, nome de guerra do Gol-bola mais veloz de Goianésia e alhures. Foi 360, 180 e 270, afinal de contas, quem não bebe não vê o mundo girar!!! A noite estava só no início!
        Começamos em um barzinho chamado “Azeite de Oliva”, ambiente tão bucólico quanto o nome depreende. Reunidos e sedentos estavam alguns amigos que trabalhavam como corretores de seguro, classe de trabalhadores mais velhaca da face da terra. Marcavam presença também as meninas que trabalhavam na corretora, chamadas carinhosamente de Apólices Vencidas, dada a periculosidade em que se apresentavam diante dos clientes e companheiros de trabalho.
            O Padre Celso, cliente da corretora, também deu uma passada para cumprimentar os companheiros sindicalizados e abençoar os amigos antes do Armagedon! Manifestou-se contra a esbórnia e contra a verdade que o cancioneiro cearense chama de “amor de rapariga”, objeto de discussão naquele momento. O padre debulhou o terço e capou o gato!
            Naquele momento as Apólices Vencidas, as antílopes do trabalho, se transformaram em verdadeiros seguros de vida, pelo menos naquele instante de êxtase etílica. Com o juízo e o bucho cheio de cerveja, chegou a hora de visitar a casinha e aliviar a bexiga. Na hora de extrair a carga, mais especificamente no exato momento da enobrecente mijada, senti algo estranho no ar. Era um misto entre a dúvida e a certeza. Mas, na dúvida, resolvi me aconselhar com o nobre Leandro em um ligeiro colóquio:
-          Meu fi, peido pesa?
-          Não!
-          Então, estou todo cagado!
            Com a dúvida inumada, resolvi me dirigir novamente ao mijadouro para tentar resolver o meu problema. Naquele momento percebi o quanto a mulher deve sofrer no simples ato de urinar em banheiros de boteco. Compulsando os autos e as calças, verifiquei que o meu receio havia se concretizado. Foi uma merda, literalmente!
            Sem muitas opções, fui obrigado a me livrar da última indumentária do homem em tempos de guerra, a cueca, que, diga-se de passagem, estava em fase de decomposição. Passei o esfola-boga nas partes íntimas e me dirigi à mesa dos sicofantas.
            No caminho entre o banheiro e a mesa senti uma sensação muito estranha, como se todas as pessoas me observassem. Não obstante a desconfiança das emanações voláteis que exaravam do banheiro em face da cueca abandonada, percebi que algo balançava e as pessoas tendiam a olhar.
            Desajeitado, premissa básica do desconfiado que fez alguma coisa de errado, sentei-me à mesa e pedi mais um chope, afinal sou filho de Deus e merecia uma recompensa por ter passado por uma sujeira daquela. Uma das gazelas que nos acompanhava olhou para mim e fez a famigerada pergunta:
            - Está tudo bem?
            Essa pergunta remetia à minha desconfiança sobre coisas que balançam e coisas que emanam odores, mas nada que me abalasse a confiança. Dei uma singela resposta à menina e pedi outro chope.
            A turma estava querendo ir para um forró no barzinho ao lado do recinto onde nós estávamos, oportunidade em que pediram a última rodada de chope e a conta. É nessas horas que democracia fica engraçada, quando vem um sujeito e pergunta:
-          Você vai?
            Ora, o cidadão não tem nem direito de argumentar sobre os motivos de ir àquele forró, já que o ambiente no boteco estava tão agradável. No entanto, vendo que a turma já estava decidida, refleti nas sábias e eternas palavras do filósofo Pranchú: “o que é um peido para quem está todo cagado?!” Naquela altura do campeonato, era muito!
            Desrespeitando as orientações do sábio Pranchú, resolvi ir ao forró. Não deu outra, no meio do borogodó senti que havia um vulcão em minha barriga e o seu magma estava preste a explodir no meu orifício rugoso. Foi naquele momento que senti a noite se esvair, da mesma forma que me esvai no W.C. daquela casa de forró e logo em seguida no recanto sossegado do banheiro de minha casa. No intervalo de tempo que ligava o banheiro da casa de forró para o banheiro da minha casa, deixei um rastro de destruição fecal por todo canto.
            Quando estava no banheiro da minha casa, entretanto, passei a refletir sobre os acontecimentos daquela noite e, de súbito, comecei a sorrir, lembrando das citações poéticas e prosopopéicas de Pranchú para um dia compassivo:
            "Para que levar a vida a sério, se nós nascemos de uma gozada!"
            Assim falou Pranchú.

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