segunda-feira, 23 de julho de 2012

COZINHANDO O JUÍZO COM AÇAÍ



           - Sócrates?
            - Não! É de Biliu de Campina2 mesmo!
            - Ufa, ainda bem, eu não aguento mais maiêutica3!
            - Tia de Biliu? Lá de Cabaceiras?
            - Não, é de Sócrates! Da Grécia!
            É impressionante como tudo na vida tem filosofia, até mesmo no açaí, espinafre pós-moderno. A receita de um bom açaí rebateu o mais exímio filósofo no intento de morder4 uma bela gazela, uma galega de olhos verdes que, como diz o sábio Adriano Lemos, de Campina Grande, “êta invenção do diacho!”
            Em meio a uma golada e outra do vinho Carreteiro (conhecido também como Chateou Chapinha ou Sang d’boeu) no bar “Joaquim e Manuel” (em Brasília), surge a resenha do filósofo para com a sua diva, que era carinhosamente chamada de “Bracinho de Lavadeira”, apelido que diziam ter alguma veia poética (ainda não descobri qual). Mano (do latim manus, que significa “mão”), alcunha romana do laborioso Don Juan que ora se cuida, começou a técnica da aproximação da fêmea em epígrafe utilizando-se de uma filosofia até concatenada. Era dialética pra cá, retórica pra lá, sofisma pra tapear, maiêutica pra complicar, até mesmo o amor platônico foi invocado e, depois de cinco longos meses, nada de morder a menina.
            A gazela até parecia interessada e trocava as idéias na base da refutação 
interrogativa:
            - E é, é?
            Este questionamento instigava o esforçado Mano a continuar com as suas divagações filosóficas. Estudou tanto o assunto que chegou até esquecer verdadeiramente o seu objetivo principal: morder a menina! A gréia já rondava o nosso espirituoso filósofo da Paraíba.
         Nesse meio tempo, a galega conheceu outra filosofia, conhecida no âmbito da sacanagem e das mais novas neologias amorosas como “a arte obstétrica do açaí”, uma prodigiosa técnica que abre os caminhos para a conquista de território. Trata-se de uma filosofia baseada na conversa mole de um marombado, uma retórica materializada da seguinte forma:
            - E aí! Um açaí com uns pedaços de banana é da hora! E aí, vamos sair e tomar um açaí?
            A resposta foi imediata:
            - Ô, demorou! Mas, nada de maiêutica! (diálogo inicial)
            Filosofia aplicada, processada e concretizada. Não é que o marombado mordeu a galega em menos de meia hora de conversa mole!!!!
            Quando Mano soube da resenha lembrou imediatamente do raciocínio indutivo de 
Sócrates, fazendo uma referência ao seu caso em particular: “Bem, se eu resenhei, resenhei e neco-nause é porque tem alguma coisa de errado comigo!” Dizia, ainda filosofando, que havia aprendido muito com o acontecido, mas não por não ter ficado com a galega e sim por ter aprendido filosofia: “É, pelo menos aprendi filosofia!”
            Com licença dos termos e parafraseando as messalinas plantonistas de Coxixola: “Isso é consolo pra pimba murcha!” Ora, era uma munganga danada para morder a galega e uma divagação tão devagar que a galega preferiu cair de boca no dadivoso açaí.
            É sugestivo refletir o motivo pelo qual a galega rejeitou o nosso filósofo e aceitou de bom grado o açaí. Entretanto, essa é uma tarefa difícil de se traduzir, pois não é em todo caboclo que se incute a idéia de que é bom o encanto bizarro e o gosto de borra que vem do açaí, assim, só podemos nos referenciar à este fruto através de um velho ditado popular: “Açaí é bom, mas vôte!”
            Ironicamente, Mano, ombudsman das meretrizes da Av. Índios Cariris em Campina Grande, ficou na manus, no velho ato altruístico sexual. Surge, então, uma pergunta que não quer calar: por que o cozinhar com filosofia não deu certo? A resposta é simples, eis que os comensais urbanos de hoje ao invés de cozinharem com filosofia preferem ser o próprio açaí, ou seja, preferem ser o espinafre da moda ou invés de ter algum conteúdo calórico mais nutritivo.
            Nesse exato momento, entretanto, só tem uma teoria filosófico-gastronômica que poderá tornar Mano um homem melhor e livre do estigma do filósofo-frouxo 
(FF), é encher a cara até esquecer a galega, afinal, como diz o próprio Sócrates: “Os maus homens vivem para comer e beber, porém os bons comem e bebem para viver.” Por outro lado, em uma posologia não menos elucidativa, estão os antigos pergaminhos escritos pelo filósofo Pranchu, que exprimem a cura do sentimento não correspondido:
            “Para curar um amor platônico só mesmo uma copulada homérica!”
            Assim falou Pranchú!!!


Referências:

1. Texto originalmente intitulado Do amor não correspondido.
2. Cantor e compositor de forró em Campina Grande, na Paraíba.
3. Método socrático que consiste na multiplicação de perguntas, induzindo o interlocutor na descoberta de suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto.
4. Morder, do verbo pegar ou ficar.

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