segunda-feira, 23 de julho de 2012

DA CÁTEDRA DO SILÊNCIO



            Às vezes é “minhoca lá”, digo, é melhor calar! Esse aforismo foi descoberto pelo confrade Zé de Otilla, na ocasião de um singelo ato da vida econômico-financeira da vida de um cidadão: uma pequena compra de supermercado. Certa vez, o velho Otilla foi ao supermercado com a sua namorada e teve a oportunidade de descobrir que as diferenças entre o gênero masculino e feminino vão muito além do velho conceito de peloca e pepeca, lúdica referência que os nossos pais diziam a respeito dos órgãos genitais do ser humano.
            Em meio de códigos de barra, carrinhos de compra e aquela gente mal educada, em um apertado supermercado de Brasília, ambos encontraram um velho casal de amigos e que não os viam há algum tempo. A sudação foi a de praxe e as velhas perguntas também.
            As mulheres, nessas ocasiões, criam uma espécie de campo de força invisível, como se o mundo ao redor não escutasse o que as duas falavam, ficando isoladas em um interminável bate-papo e com um dialeto próprio.
            - Querida, quanto tempo! Você está tão linda, o que você fez? Já sei, o seu cabelo está totalmente diferente com esse novo corte. Quem fez essa maravilha? Só pode ter sido o super Marivaldo!
            A outra responde:
            - Pois é querida, foi ele mesmo. Ele é o mago dos cabelos. E você, não mudou muito, não é? Sempre conservada!
            A réplica:
            - Não mudei mesmo, continuo com o rostinho dos dezoito! Mas querida, estou admirada o quanto você ficou elegante com esse cabelo. O Marivaldo continua no mesmo local? É porque gostei muito do seu corte e vou querer fazer no meu também!
            Enquanto isso, o macharal enceta o velho e reservado diálogo de arquibancada de futebol.
            - Fala, fela da puta! Que cabelinho de viado é esse, hein? Está parecendo Clóvis Bornay... ehehehe
            - É o mesmo que a sua irmã gostava, seu mané! Por falar em irmã, onde anda aquele filezinho? ehehehe.....
            - Casou com um baitolinha! Mas ele é menos baitola que você, que tem coragem de andar com esse cabelinho de qualira!
            - É, mas pergunta para a sua irmã o que ela fazia com esse meu cabelo de qualira! eheheheheh
            A conversa paralela se estendeu durante um longo período, até que um comprador transeunte, observando o congestionamento que se formava, intrometeu-se na conversa e, até de forma rude, atravessou-se entre os carrinhos para pegar um produto da prateleira. Aquele movimento brusco fez com que todos entendessem que estava na hora de dispersar e foi o que aconteceu.
            Após as compras, quando já estavam dentro do carro e em direção de casa, a então amásia do cabelinho, digo, do Otilla, fez o seguinte comentário:
            - Aquele cabelo da Fulana está parecendo um buquê de pentelho! Nossa, que horrível! Hum, imagine se eu iria cortar o meu cabelo naquele afrescalhado do Marivaldo! Jamais!
            Naquele momento, o Otilla ficou chocado com a forma áspera e grosseira daquelas palavras, pois estava justamente pensando na conversa que teve com o Fulano, namorado da Fulana. Ele estava pensando justamente o quanto o cara era gente fina e que, apesar da conversa escabrosa que tiveram, o quanto eram grandes amigos. Será que a máxima que diz que mulher só se veste para mulher é verdadeira? Ou seja, será que uma mulher tem que estar bem vestida para impressionar as outras mulheres? Acredito que sim, afinal, se fosse para se vestir exclusivamente para agraciar os homens, muito provavelmente todas andariam nuas! Enfim, só sei que o Otilla não prestou a mínima atenção ao cabelo da Fulana, namorada do Fulano.
            Já a amásia do Otilla, que depois de um tempo se tornou ex, ensinou o quanto a falsidade pode ser elegante, como o Diabo que veste Prada, fazendo com que um elogio seja ao mesmo tempo um escárnio, como se o sinônimo de “querida” fosse o antônimo “antipática”. Portanto, quando uma mulher encontrar outra e disser:
            - Querida, como você está?
            Entenda:
            - Antipática, vá se ferrar!
            São nesses momentos que lembramos as sábias palavras do filósofo Pranchu quando exprimia o valor do silêncio:
 “Às vezes é melhor ficar quieto e deixar que pensem que você é um idiota, do que abrir a boca e não deixar nenhuma dúvida.”
            Assim falou Pranchú!

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