segunda-feira, 8 de abril de 2013

RETÓRICA DAS PAIXÕES: O DIÁLOGO ENTRE ARISTÓTELES E PRANCHÚ


Retórica das Paixões[1]

            - Pô, mas com um nome desses, você queria o quê? Desculpe a franqueza, mas parece nome de local onde só vai doido ou alguma coisa do gênero!
            Essa frase foi retirada do início de um prodigioso colóquio havido em Atenas, aproximadamente em 310 a.C., quando dois estudantes discutiam sobre a atitude do pai do estudante mais novo. O diálogo principiou-se questionando as atitudes do referido pai quando cobrava do filho empenho nas aulas de lógica, biologia, zoologia, matemática, física, metafísica e tantas outras disciplinas não menos diferentes das dos dias de hoje.
            - O professor Rhibamar[2], de biologia, não poderia ter mostrado a minha nota diretamente ao meu pai. Se ele me entregasse antes, talvez eu pudesse utilizar a única coisa que realmente aprendi bem até os dias de hoje: a retórica. Quem sabe eu mudaria a minha nota utilizando a velha e boa retórica[3] para um contexto de dúvida, afinal “a dúvida é o princípio da sabedoria.[4]
            - Belas palavras, Ari! Mas se você realmente conseguisse mudar a sua nota com base na retórica, eu seria seu eterno discípulo. O problema é que o zero é uma nota originária de uma linguagem universal e bastante persuasiva, quase imune à retórica. Sinceramente, amigo véi, acho que biologia não é bem a sua área de expertise.
            - Pois é, mas o que devo fazer agora? O meu pai, o velho e bruto Nicômaco, vai comer o meu fígado por causa dessa nota e por causa da mentira que contei, já que não tive coragem de dizer a nota a ele. Já estou até imaginando o castigo: ele vai me levar para a repartição e me deixar preso naquela biblioteca do velho Alexandre por uns seis meses, no mínimo.
            - Te acalmes amigo e veja pelo lado bom. Quem sabe você, durante esse tempo, possa refletir sobre tudo o que aconteceu. Veja só, mentira é algo que fere a moral, que, por sua vez, faz parte da ética. Sei lá, de repente você reflete um pouco a respeito da Ética a Nicômaco[5], o seu velho pai. Já que você estará de castigo na biblioteca do velho Alexandre mesmo, pense no tanto de bobagem que você anda fazendo com essa tal de Retórica[6], que um dia vai acabar te fudendo de verdade.
            - Gostei de suas sugestões, mas ficarei muito tempo isolado e bastante solitário durante esse período. “O homem solitário é uma besta ou um deus.”[7]
            - Não ficarás solitário, meu caro amigo Ari! No momento em que ninguém ora pro nobis, quem sabe refletes sobre “Virtudes e Vícios”[8] e enceta o monólogo do onanista. É uma excelente oportunidade para refletir durante o autoflagelo sexual. Se não estiveres inspirado, lembre-se do capitãozinho[9] e dos demais incentivos que ganhávamos da professora Valéria Messalina Augusta[10] nas épocas de intercâmbio em Roma.
            - Meu nobre amigo Pran, estou quase pedindo e propondo esse castigo ao meu pai. Você tem toda razão. “É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer!”[11] Vou me ferrar nessa merda de biblioteca, mas será por uma boa causa, afinal “a educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.”[12] Vou encarar de frente o velho e bruto Nicômaco, meu pai, mas sei que vem peia daí!
            - Pô, mas com um nome desses, você queria o quê? Desculpe a franqueza, mas parece nome de local onde só vai doido ou alguma coisa do gênero! (diálogo inicial). Nicômaco parece originário de Manicômio, por isso que você é meio maluco e tem o juízo no pé esquerdo. Para completar essa sua maluquice, só faltava você ser filósofo e expert em biologia[13], essa matéria que você se fudeu agora. Pense numa ironia do destino!
            - Isso é uma provocação, amigo Pran? Conheço-te bem e sei que “o sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz.[14]
            - Quem sou eu para provocar alguma coisa, caro Ari! Estou só fazendo um breve comentário sobre algumas possibilidades da vida, afinal, não é de boa prudência provocar um sujeito maluco como você. Aliás, não duvido absolutamente nada que, para curar essa doidera, você enverede também pelo ramo da psicologia[15].
            - Essa também é uma boa ideia, amigo Pran, pois “nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura”[16].
            - É verdade, Ari, mas você é o tipo de doido que nem o Dr. Gardenal, aquele proprietário do hospício de Atenas, dá jeito! Enfim, em todo caso, se eu fosse você, aproveitaria o seu desiderato de bom grado e também chamaria o Prof. Platão para lhe acompanhar, já que ele é um velho maconheiro e que não fala coisa com coisa mesmo. Quem sabe vocês não criam alguma coisa juntos[17]!
            - Amigo Pran, agradeço as suas sugestões, mas é melhor parar de me dar ideias! Estou com o meu caldeirão fervilhando de insights e preciso urgentemente de uma Brejeira de Rhodes[18] antes do almoço, que é “muito bom pra ficar pensando melhor”[19]. Você é um amigo muito dedicado e que contribui bastante para o meu singelo crescimento. Só tenho mais uma coisa a te dizer: sou baixinho, mas “se vi ao longe é porque estava nos ombros dos gigantes.”[20] Obrigado, meu amigo!
            E assim, a história demonstrou que o pequeno Ari transmutou-se no gigante Aristóteles, tudo como um desafio ao onipresente filósofo iluminista Pranchú e seus ensinamentos subliminares. Ao final do colóquio acima, o prodigioso Pranchú retruca a conclusão aristotélica com uma frase que um dia se tornaria pergaminho:
            “Se vistes ao longe, amigo, é porque ginecologista tu és, pois enxergas lá na casa do caralho!”

            Assim falou Pranchú!




[1]. Retórica das Paixões é a segunda obra sobre Retórica do filósofo grego Aristóteles. O que Aristóteles se dispõe explicitamente a mostrar em sua Retórica é que as paixões constituem um teclado no qual o bom orador toca para convencer. Um crime horrível deverá suscitar indignação, ao passo que um delito menor, absolutamente perdoável, deverá ser julgado com compaixão. Para despertar tais sentimentos, é preciso conhecer os que existem antes de tudo no instigador do auditório. Há aí uma verdadeira dialética passional, que se enreda sempre em retórica com um ajuste das diferenças, das contestações, o qual deve chegar, para que haja persuasão, a uma identidade, o ideal político de toda uma relação com outrem.
[2]. Referência ao grande mestre Ribamar, excepcional professor de biologia em Campina Grande (PB) e alhures.
[3]. Retórica (do latim rhetorica, originado no grego ῥητορικὴ τέχνη [rhêtorikê], literalmente a «arte/técnica de bem falar», do substantivo rhêtôr, «orador») é a arte de usar uma linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva.
[4]. Frase aristotélica.
[5]. Ética a Nicômaco (em grego: Ἠθικὰ Νικομάχεια transl. Ēthicà Nicomácheia; em latim: Ethica Nicomachea) é a principal obra de Aristóteles sobre Ética. Nela se expõe sua concepção teleológica e eudaimonista de racionalidade prática, sua concepção da virtude como mediania e suas considerações acerca do papel do hábito e da prudência.
[6]. Retórica é uma obra do filósofo grego Aristóteles. É composto por três livros (I: 1354a - 1377b, II: 1377b - 1403a, III: 1403a - 1420a) e não existem dúvidas acerca da autenticidade da obra.
[7]. Frase aristotélica.
[8]. Das virtudes e vícios (De Virtutibus et Vitiis Libellus, em latim) é o mais breve dos quatro tratados de ética atribuídos a Aristóteles. A obra, atualmente, é considera espúria por acadêmicos e suas verdadeiras origens são incertas, ainda que provavelmente foi criada por um membro da escola peripatética.
[9]. A. Bolinho de arroz, feijão e farinha feito com a mão. As mães utilizam o truque para incentivar o apetite das crianças. B. Fazer capitãozinho - quanto a namorada aperta o pênis do namorado carinhosamente e de forma repetitiva. Fonte: Dicionário de Cearês - Termos e expressões populares do Ceará, Marcus Gadelha, Clio Editora (7ª. Edição), 2010.
[10]. Messalina foi a mulher do imperador Romano Claudius. Foi conhecida por ser adúltera e inescrupulosa. Em um episódio desafiou a maior prostituta de Roma para um duelo em que sairia vencedora aquela que transasse com o maior número de homens em 24 horas. A prostituta no meio da disputa desistiu por não aguentar mais e a Messalina continuou por mais de24 horas. Transformou o palácio em um bordel e ainda tentou matar Claudius. Hoje em dia Messalina é sinônimo de mulher fácil, galinha, mulher bandida, sem caráter e adultera, ou seja, sinônimo de vadia, puta mesmo.
Fonte: http://www.dicionarioinformal.com.br/messalina/
[11]. Frase aristotélica.
[12]. Frase aristotélica.
[13]. No ano de 343 a.C., de volta a Atenas, Aristóteles fundou o Lykeion, origem da palavra Liceu (lyceum) cujos alunos ficaram conhecidos como peripatéticos (os que passeiam), nome decorrente do hábito de Aristóteles de ensinar ao ar livre, muitas vezes sob as árvores que cercavam o Liceu. Ao contrário da Academia de Platão, o Liceu privilegiava as ciências naturais. Alexandre mesmo enviava ao mestre exemplares da fauna e flora das regiões conquistadas. O trabalho cobria os campos do conhecimento clássico de então, filosofia, metafísica, lógica, ética, política, retórica, poesia, biologia, zoologia, medicina e estabeleceu as bases de tais disciplinas quanto a metodologia científica.
[14]. Frase aristotélica.
[15]. Obras de Aristóteles sobre a PSICOLOGIA: Sobre a Alma; Sobre a Sensação (= Parva Naturalia 1); Sobre a Memória (= Parva Naturalia 2); Sobre o Sono e a Vigília (= Parva Naturalia 3); Sobre os Sonhos (= Parva Naturalia 4); Sobre a Predição pelos Sonhos (= Parva Naturalia 5); Sobre a Longevidade e a Brevidade da Vida (Parva Naturalia 6); Sobre a Juventude e a Velhice (= Parva Naturalia 7); e, Sobre a Respiração (=Parva Naturalia 8).
[16]. Frase aristotélica.
[17]. Juntamente com Platão e Sócrates, Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental.
[18]. Brejeira = cachaça fabricada no brejo, típica do brejo paraibano. Rhodes: a maior das ilhas do Dodecaneso, situadas no Mar Egeu e que integra o território administrado pela Grécia; famosa devido ao Colosso de Rhodes.
[19]. Frase utilizada no futuro por um filósofo pernambucano chamado Chico Science.
[20]. Frase aristotélica.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O SACERDÓCIO DA CERVEJA





    O mundo foi pego de surpresa com a renúncia do Papa Bento XVI, o pontífice alemão e ex-mancebo da juventude hitlerista. A dúvida foi semeada nos corações dos fiéis e até nas centúrias de Nostradamus procuraram explicações, afinal por que um cabra iria deixar um emprego bom desses, com todas as contas pagas, serviçais de todas as raças, cores e mesmo credo ? Aqui iremos contar o que realmente aconteceu.

    Bento XVI estava em mais um dia de trabalho (muitos diriam que estava apenas papando) quando lhe chegou uma leitura que há muito havia requisitado: Os Manuscritos do Mar Morto. Notara uma resistência por parte dos setores mais burocráticos da Igreja para que não lesse este documento. Queria ler a parte que fora censurada ao público e conhecida por poucos mesmo dentro da Igreja. Dizem que João Paulo Segundo não pode ler pois teria que escolher entre este e os segredos de Fátima. Bento XVI não sabia o quanto aquilo mudaria seu destino e do mundo. Pegou a xérox do manuscrito e começou sua leitura.

    E eis que um peregrino oriundo da Pranchúria, terra longínqua e de homens misteriosos, chegou ao Egito em um ano esquecido pelo próprio tempo. Por ser um homem cuja lenda antecedia seus passos fora muito bem recebido pelo próprio faraó, Ramsés III. O berço da cultura no continente africano organizou uma recepção real para o forasteiro conhecido como Pranchú, o macho. Chegou montado em um jumento com um bizaque de caçador e uma cabaça com pouca água. Um tablete de rapadura lhe serviu como refeição por meses a fio. Ao entrar no templo de Luxor o Faraó lhe deu as boas vindas e apresentou sua corte.

    Primeiro o Faraó abriu uma janela de dentro da pirâmide e uma imensidão de escravos estava torrando embaixo de um calor indescritível, parecia que o sol estava mais perto naquele dia. Pranchú olhou com respeito para toda aquela multidão que movia o império egípcio com suas construções milenares, misteriosas e que o tempo provou serem eternas. O Faraó disse:

    - Este é o chão de fábrica do nosso império. Escravos e mais escravos. Trabalham muito, de sol a sol, mas têm sua recompensa no final do dia.

    Pranchú estranhou e pensou que recompensa seria aquela mas deixou seu anfitrião prosseguir com a apresentação de sua sociedade. O Faraó bateu palmas e alguns servos apareceram para fechar a janela, ao que aproveitou para apresentá-los:

    - Estes são os serviçais que cuidam dos afazeres mais simples do império. Não estão subjugados ao trabalho forçado dos escravos mas contribuem com seus esforços para dar um gostinho a Rá , nossa mais querida divindade !

    Pranchú olhou com afeição para os serviçais que andavam estranhamente de perfil e fez um sinal com a cabeça, ao tempo que exclamou:

    - Opa !

    Quando os serviçais se retiraram e Ramsés bateu palmas novamente um grupo de camponeses entrou na ampla sala piramidal portando frutos e iguarias egípcias. O Faraó lhes apresentou:

    - Estes são os camponeses que cultivam as dádivas que a terra nos dá.

    Pranchú pegou um cacho de uva e seguiu escutando as explicações do Faraó:

    - Como todos os outros do meu reino eles também tem sua recompensa ao final do dia.

    Pranchú começou a se interessar pela tal recompensa. O Faraó caminhou para uma outra sala cheia de papiros e lhes apresentou os escribas, todos sentadinhos no chão e enchendo papiros e mais papiros com figuras. Pranchú cumprimentou o pessoal e seguiu o Faraó para uma área reservada porém espaçosa de dentro da pirâmide, de onde vinha um cheiro enebriante.

    - Aqui estão os sacerdotes que tanto trabalham na missa das 6 de todos os dias quanto na produção daquela que é a nossa alegria, o prêmio pela labuta diária à qual em meu império todos tem direito de beber: a cerveja !

    Pranchú olhou com os olhos arregalados para todos os sacerdotes compenetrados que mexiam caldeirões ferventes, de onde saiam os odores mais encantadores. O Faraó , com um gesto, pediu que uma serviçal trouxesse um copo para que Pranchú, o macho, experimentasse daquela bebida. Pranchú pegou do copo e sorveu o líquido com gosto e vontade.

    Então neste ponto do texto Bento XVI se ajeitou na sua cadeira papal para ler com atenção aquela conclusão que faria com que desistisse do seu próprio sacerdócio.

    Todos ao redor de Pranchú esticaram um pouco o pescoço para escutar o que aquele homem diria. Foi quando Pranchú arrotou em alto e bom som e disse:

    "Melhor do que uma fábrica de cerveja só uma fábrica de buceta !"

    Assim falou Pranchú !

domingo, 17 de fevereiro de 2013

IRON MAN: DO PÓ VIESTES, AO PÓ VOLTARÁS





    Desde os primórdios até hoje em dia o homem ainda bebe o que o macaco bebia. Para quem não sabe essa brincadeira de tomar cachaça começou com nossos avós: os símios. Os macaquinhos ficavam mais corajosos para enfrentar seus pares, ou mesmo outras bestas da floresta, quando comiam frutas naturalmente fermentadas. Então não pensem que este negócio de 'tomar uma pra chamar as mulheres pra dançar' foi coisa daquele seu tio escroto. Isso já vem escrito no seu DNA, mais precisamente no cromossomo 51.

    Das priscas eras pulemos aos dias atuais. Vivemos em um mundo agora longe da natureza em tempo e espaço, onde muitas frutas apenas encontramos 'em caixinha'. Tudo é sintético até mesmo as drogas que antes vinham de frutinhas esquecidas pelo chão ou de uma 'touceira de capim marvado'. Hoje o homem manipula a química para praticamente 'arrombar as portas da percepção'. É uma fumada no entorpecente da moda e o camarada já tá banguelo na sarjeta comendo merda e pedindo grana pra comprar mais. É neste contexto pós-apocalíptico (pós por estarmos em 2013 e de acordo com aquela pedrinha Maia: a 2011 chegarás , de 2012 não passarás) que os cientistas repararam em um indivíduo que já deveria ter dado o confere na pedra do IML: Ozzy Osbourne.

    Ozzy despertou a atenção da comunidade científica não apenas por estar gagá mas simplesmente por estar VIVO ! É como diz o matuto, aliás não diz, questiona: 'Como é que muléstia esse cabra tá vivo ?'. Percorrendo a biografia deste indivíduo vê-se que foram 40 anos de abuso de álcool e drogas. Dias contínuos no ritmo 'do pó viestes, ao pó voltarás'. Gargarejo matinal em garrafas de scotch e o camarada está firme e forte que nem prego no angú. Aliás a classificação 'firme e forte' é de um tom exagerado pois o homem está bem avariado porém vivo e agora nas páginas das revistas científicas. Então colocaram Ozzy no laboratório e fizeram exame de sangue, urina e de fezes (dentro do potinho Ozzy ! dentro do potinho ! No chão não !) e mapearam seu genoma. 

    Quais segredos trazem o resultado de um mapeamento tão complexo ? Se numa mesa de búzios com dez conchinhas do mar já é difícil de se interpretar algo, avalie em uma caralhada de dados cromossômicos ... Como em um pega varetas de bilhões e bilhões (como diria Carl Sagan) de palitos, pouco a pouco foi-se desfazendo o nó. E desse ninho de pentei de barrão os cientistas constataram que:

        - No cromossomo 24 havia o registro de uma noitada de Ozzy com Mick Jagger, David Bowie e Freddie Mercury nus em pêlo e tomando martini rosé.

        - No cromossomo 69 encontraram alguns penugens pubianos da Cláudia Ohana.

   Entretanto a surpresa veio no supracitado cromossomo 51: uma ligação direta com os Neandertais ! E é aí caro leitor que a cobra morde o rabo (o próprio): Ozzy é mais macaco que muito babuíno por aí ! Se Darwin estivesse vivo estaria revirando suas anotações com aquela cara barbuda pensando 'onde foi que eu errei ?'. É como se o fígado do infeliz fosse de alumínio que enferruja por cima e protege o miolo. Com o laudo dos resultados na mão os cientistas disseram para Ozzy: Keep Walking meu amigo porque de cachaça você num morre. São coisas que a ciência constata mas não explica ... 

   Apenas com as sábias palavras de Pranchú podemos ter um minuto de sabedoria e entendimento ... oremos então: 

   "Eu bebo sim , estou vivendo, tem gente que não bebe e está se fudendo" 

   Assim falou Pranchú !



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

COMO FUDER AMIGOS E ENRABAR PESSOAS: O MARKETING DE REDE PRANCHURIANO





     Você já ouviu falar de Dale Carnegie? Não? Pois se por trás de um grande homem existe uma grande mulher, saiba que por trás de todo chato da Ervalife existe este cabra: Dale Carnegie. Vamos aos fatos e, obviamente, às elucubrações.
    Dale Carnegie foi um escritor americano que nos anos 20 escreveu o livro 'Como fazer amigos e influenciar pessoas'. Seu objetivo era fornecer um guia prático para que as pessoas pudessem se tornar, digamos, mais carismáticas. Esta é a parte do 'fazer amigos'. Algumas dicas são deveras interessantes, como por exemplo, evitar falar 'eu quero', 'eu vou', 'eu sou' pois as pessoas geralmente não veem com bons olhos aqueles que falam de si. É uma forma então de parecer mais simpático para as outras pessoas sem que elas percebam. Outra sacada é deixar as pessoas falarem, dar ouvidos e utilizar o que gostam em futuras analogias, mais ou menos como o Lula fazia ao falar de economia em parábolas futebolísticas. Como disse essa é a parte do 'fazer amigos'. Mas foi a parte do 'conquistar pessoas' que chamou a atenção daqueles que criaram o marketing de rede, ou melhor, a profissionalização do 'boca a boca'. 
     O marketing de rede é simples e sua forma rústica fez muito sucesso no Brasil nos anos 70 entre os picaretas de boa vontade que construíam as célebres Pirâmides. É como brincar de toca com dinheiro, onde os primeiros vão ganhar em cima dos que estão entrando na onda e o último da fila é que aguente a trolha! A coisa foi evoluindo e empresas fizeram deste 'modus operandi' seu 'modus enrabanti', jogando a carniça pros clientes e estes que consumam e convençam outros a consumirem também. Mas como as empresas conseguem convencer os clientes a fazerem isto? Aí é onde a cobra morde o rabo e chegamos novamente no nosso amigo(?) Dale Carnegie. Os clientes (ou divulgadores ou propagandistas ou operários da pirâmide) são convencidos a disseminar a palavra! Taí o boca a boca. Verdade seja dita: o dinheiro que seria investido em marketing é investido em melhores produtos e esta verdade entra como mantra no papo dos que vão converter corações e mentes para o consumo. Nada melhor do que uma situação hipotética para ilustrar tudo o que foi dito até aqui. Pois bem, conheçam agora a Laranjator Master: empresa líder no mercado de espremedores de laranja multiuso!
    - Aê pessoal, vamos todo mundo sentando que está na hora de falar sobre os produtos da Laranjator Master, disse o homem elegantemente vestido para fazer sua apresentação. O auditório consiste na sala da casa de um cliente e sua respectiva família e o homem está suando em bicas, tentando lembrar de tudo o que leu sobre como Mostrar o Plano:
   - Estamos aqui (ele não fala EU) para apresentar um produto revolucionário de nossa empresa, a Laranjator Master. A empresa tem 40 anos no mercado americano, vende milhõoooooes de dólares todos os anos, pois tem um sistema inovador de vendas onde você vai se tornar sócio da empresa comprando os melhores produtos.
Conversa vai, conversa vem e após algumas matemáticas obscuras onde 2 + 2 = 6, alguns da plateia já começaram a pensar em vender seus bens para investir neste modelo de negócios. Foi quando um carinha da plateia levantou o dedo e perguntou:
    - Mas vem cá meu amigo, qual é o produto mesmo? Até agora você falou que a gente vai começar a se vestir que nem pastor e sair catequizando o povo pra comprar o Laranjito aê, mas não mostrou esse danado...
    - Sim amigo (já é amigo?) você tirou a minha da boca! Estava escondendo o produto, pois a cereja do bolo fica pro final né ? -disse o apresentador piscando para a vovó que estava quase cochilando na cadeira de balanço...
   - Eis o Laranjator Master Bator! O primeiro e único espremedor de laranja multiuso do mercado !
O apresentador mostra um espremedor de laranja em formato, digamos, fálico.
    - Mas isso parece uma RÔLA! - disse o carinha da plateia.
    - Exatamente meu caro - responde o apresentador - é de fato, uma rôla! O Laranjator Master Bator é o primeiro espremedor sexual do mercado, feito de fibra de carbono e, portanto, antialérgico. Temos todas as cores cítricas.
    - Mas isso é um absurdo - comentou alguém da plateia.
    - Eu gostei - disse a vovó alisando um item disponível na mesa ...
   - O Laranjator Master Bator é um produto atual, antenado com o novo sucesso literário '50 tons de pica' (veja aqui) - disse o palestrante. - Afinal se a dona de casa vai na cozinha fazer um suco por que não bater uma siririca também?
Todos se entreolharam coçando o queixo pensando 'é .... por que não?' ....
E o que não tinha lógica passou a ter, pois o dinheiro aliena ... E nestas horas, apenas a palavra pranchuriana nos liberta: 

    'Laranja no cu dos outros é refresco !'

Assim falou Pranchú!


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

OS TRÊS DE SONS DE UM HOMEM



    Desde priscas eras, a onomatopeia sempre foi o substantivo feminino mais utilizado pelo homem, na acepção mais masculina da palavra. Mesmo não sabendo, o homem se utiliza da onomatopeia para sanar suas agruras e suplantar suas aspirações e desejos mais intrínsecos. A onomatopeia, inclusive, foi objeto de profundas reflexões na História do Brasil, sobretudo na ocasião da proclamação da nossa independência.
    De acordo com a historiografia clássica do país, no dia 7 de setembro de 1822, às margens do riacho Ipiranga, o então Príncipe Regente do Brasil, D. Pedro de Alcântara de Bragança (futuro imperador Dom Pedro I do Brasil), teria bradado perante a sua comitiva: “Independência ou Morte!” Pois bem, essa é a parte que todos imaginam que sabem, mas outras estão encrustadas em nosso DNA, embora façamos um tremendo esforço em não conhecê-las. 
    Na referida comitiva de D. Pedro I estava presente uma figura inusitada cujo batismo atende por Francisco Gomes da Silva, também conhecido pela alcunha de “o Chalaça”[1]. Segundo o historiador Assis Cintra[2], esta figura era filho bastardo do Visconde de Vila Nova da Rainha e de uma rapariga de 19 anos, aldeã pobre que trabalhava como serviçal de quarto da família do Visconde. O Chalaça foi ordenado criado honorário do Paço Imperial quando D. João VI e a família real vieram para o Brasil. 
    Segundo consta da historiografia clássica, o Chalaça possuía um caráter “bulhento, extravagante, insolente e dissipado”[3]. De simples criado particular do Paço, foi promovido pelo Imperador (D. João VI) a Ajudante da Guarda de Honra e a seu Secretário privado e, finalmente, tanta ascendência ganhou sobre o ânimo de seu augusto amo, que se pode avançar sem exageração, que partilhava com ele a autoridade suprema. De inteligência absurdamente aguçada, após vários entreveros com a família real, o Chalaça passou a desempenhar a função de oficial-de-gabinete, secretário, escriba, confessor e conselheiro de D. Pedro I, então Príncipe Regente do Brasil. 
    A função institucional que exercia possuía um liame muito delgado com a amizade, motivo pelo qual o Chalaça passou a assumir um cargo bastante inusitado perante D. Pedro I: Assessor para Assuntos Licenciosos (AAL), ou seja, assessor da putaria! O então Conselheiro Gomes, sujeito quarentão e parceiro do jovem D. Pedro I nas incursões aos lupanares da época, era conhecido por sua sagacidade e virtuosidade no trato com as mulheres, subsidiando o então Príncipe Regente no seu trato para com todo tipo de moçoila. A regência do Príncipe pelo Chalaça era meramente voltada à libertinagem e fuleragem mais comezinha. Era a regência da putaria institucionalizada. 
    Os contos históricos mais recentes demonstram que o Chalaça também era bastante perspicaz quando o assunto era dinheiro, aliando-se, na política e na alcova, até mesmo com o capeta para conseguir o que queria. Das memórias posteriores publicadas pelo próprio Conselheiro Gomes, pode-se constatar que o mesmo também era afeiçoado a elogios e puxa-saquismos, eis que esse era um dos motes de seu sucesso. 
    Em sua intrigante caminhada e abnegação junto com o Imperador D. Pedro I, o Chalaça desenvolveu teses e antíteses que um dia seriam objeto de inserção no DNA do homem brasileiro, conforme explicitado acima. O Conselheiro Gomes, baseado na teoria dos três ruídos, inspirada na obra “El hombre y las cosas tríplices”, citado pelo cronista José Roberto Torero, cria um dito filosófico que um dia se transformaria em uma aforismo moral para os machos tupiniquins, baseado em três onomatopeias: 
“Três sons é tudo o que busca o homem no decurso de sua experiência. Não são dois, nunca poderiam ser quatro. Pois tudo bem, e tais são eles: o sussurro das mulheres, o tilintar das moedas e o alarido das palmas. Nenhum homem poderá se considerar plenamente satisfeito - muito embora possa fingir que deles não sente falta, como alguns devotos - se, ao menos uma vez na vida, não tiver tido contado com eles.” [4]
    Trata-se de três verdades axiológicas, metonimicamente formuladas, cuja conclusão foi incorporada na psique do macho brasileiro, sem a possibilidade de qualquer adjetivação ou derivação para o conceito pós-moderno da metrossexualidade (vide O Elo Perdido[5]) ou outra moda mais enviesada. Em outras palavras, não há margem para aplicação para aqueles que têm dúvida de sua própria masculinidade. 
    Os três sons de um homem, muito bem formulado por um sujeito errante, porém gabaritado, remetem aos três objetivos minuciosamente perseguidos pelo macho brasileiro, seja num requintado restaurante com sua donzela ou mesmo em uma micareta, onde ninguém é de ninguém. O que interessa, segundo o Chalaça, é contemplação dos três sons de um homem durante o decurso de sua existência. 
    Assim, nenhum homem estará plenamente realizado se não ouvir os sussurros das mulheres, em seu efetivo plural, durante a sua breve passagem pela terra. Talvez seja esse som (sussurro das mulheres) aquele que se assemelha aos terremotos, maremotos ou tsunamis que fazem com que o homem ande mundo afora atrás de um rabo de saia. Nenhum homem corta o cabelo, faz a barba, põe perfume ou faz outro asseio mais simples se não for em virtude de uma bela gazela. Para o Conselheiro Gomes, a chavasca se constitui como a mola que move o mundo, juntamente com o sussurro que a acompanha. 
    Da mesma forma, segundo o Chalaça, não há como ser um homem plenamente satisfeito sem a onomatopeia advinda dos “tilintares das moedas”. Trata-se, como bem conota a referida metáfora, da satisfação advinda do sucesso ou êxito financeiro alcançado pelo macho, afinal, não há como figurar de playboy sem ter como pagar. Há quem diga que essa onomatopeia (tilintares das moedas) seja provocada justamente para suplantar o primeiro som de um homem (sussurro das mulheres), eis que cortejar uma dama, seja em restaurante ou bordel, necessita de recursos financeiros. 
    O último som de um homem, para o Chalaça, seria o “alarido das palmas”, que representa justamente o reconhecimento ou elogios que são agraciados ao homem. Essa onomatopeia (alarido das palmas) representa a exaltação dos adjetivos e das virtudes do homem, sendo a contemplação de algo que diferencia os homens. Há quem diga que essa onomatopeia também seja para contemplar o primeiro som de um homem (sussurro das mulheres), pois nenhum homem é virtuoso em algo apenas para regozijar-se. Assim, por exemplo, resta claro que um homem vai para academia malhar não por causa da sua saúde, mas sim por conta da visibilidade que granjeia com a mulherada. A conclusão é simples: a malhação objetiva a chavasca! 
    Cada povo reza a antropologia mais óbvia e rasteira de sua respectiva herança cultural. Com o povo brasileiro não foi diferente. Assim como uma doutrina que compõe um sistema filosófico, o qual incorpora conhecimento aos homens no decorrer dos anos, a teoria dos três sons, criada pelo Conselheiro Gomes, está encrustada no ácido desoxirribonucleico do homem brasileiro, estigmatizado em várias circunstâncias, negócios, fatos, acontecimentos, condições ou estado das coisas. 
    O futebol, por exemplo, é considerado uma paixão nacional justamente porque é a mais lídima expressão da busca perfeita pelos três sons de um homem: o sussurro das mulheres, o tilintar das moedas e o alarido das palmas. Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol na infância ou na juventude para escutar repetidamente os três sons acima! É justamente aí que a teoria diferencia aqueles que são macho de fato, pois, segundo consta a lenda, dificilmente encontra-se um qualira que goste de futebol. 
    Outro exemplo é a cerveja. O gosto pela cerveja é uma busca pelos três sons de um homem, mesmo que seja uma busca efêmera. O sujeito que vai ao bar, bebe cerveja e fica ébrio, mesmo sem brio, certamente ficará açoitado por uma sensação arrebatadora dos três sons de um homem, afinal, todo bêbado fica rico, bonito e joiado! O sujeito começa a falar alto, achar que toda mulher está dando mole e paga tudo pela cerveja, inclusive para os amigos. 
    Não menos elucidativo, outro exemplo bastante comum pode ser constatado nos negócios. Aquele que obtém sucesso nos negócios objetiva igualmente a busca perfeita pelos três sons de um homem, desde que seja homem, evidentemente. No Brasil, inclusive, existe um mantra muito curioso em torno dos bem sucedidos empresários: quando ficam milionários, gostam de aparecer! Nem que seja na revista Caras ou Bundas! Ainda em relação a esses bem sucedidos empresários, é possível constatar a famosa troca da mulher de sessenta pela balzaquiana, como uma forma de upgrade de mulher. Nesse caso, é comum ver o milionário vovô-garoto de mãos dadas com a neta, digo, com a nova esposa. 
    Pois bem, a teoria dos três sons, materializada por um sujeito rústico, bruto e sistemático, como se diz lá no Goiás, faz parte da epiderme do homem-macho brasileiro, sendo objeto de uma herança transpassada por gerações e que se renova a cada dia, além de uma fórmula para manter-se perene às novas investidas da moda, assim como a metrossexualidade e outras vaidades típicas do sexo feminino. A teoria dos três sons de um homem tem evidente fundamento axiológico nos pergaminhos pranchurianos quando do discernimento da mulher, afinal, diria Pranchú, as mulheres amam os homens que apresentam qualidades inversas aos seus defeitos. 
    O homem que nunca buscou os três sons, assim como explicitado pelo Chalaça, certamente é um sujeito marcado pela própria natureza e que possivelmente se resguarda das coisas boas da vida. É como se o homem não se descobrisse, afinal, como diria o mestre Pranchú na invasão de São José da Lagoa Tapada pelos Fenícios: 
“Para o sujeito que é um mau fodedor, até o saco atrapalha!”
Assim Falou Pranchú! 


[1]. É aí que entra para a história o Sr. Francisco Gomes da Silva, que tinha o apelido de Chalaça, que significa dito de zombaria, dito picante, frase graciosa e satírica. (FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995).
[2]. CINTRA, Assis. O Chalaça favorito do Império. Disponível em: <virtualbooks.com.br/freebook/
port/did/chalaça/chalaça.htm>. 2000. Acesso em: 22 maio 2011. p. 08.
[3]. ARMITAGE, João. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1977, p. 111.
[4]. TORERO, José Roberto.  Galantes memórias e admiráveis aventuras do virtuoso conselheiro Gomes, O chalaça. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 92.


quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

DO FUMO À FODA: ENSAIO SOBRE A CAVERNA

[1]


[1]. Título originário: “Ensaio sobre Pranchú, segundo Platão.”  




            - Puta que pariu, Prancha! Que porra de lugar é esse? Se eu não fosse seu amigo há muitos anos, certamente diria que você é um tremendo de um baitola!
            - Pô, Plata, mas não foi você mesmo que disse que queria ir a um local propício para refletir sobre metafísica, gnoseologia, dialética e misticismo? Então, aqui é um excelente local para isso!
            - E tinha que ser na porra de uma caverna escura como essa? Não poderia ser na encosta de uma montanha, em uma enseada, em um barco ou em qualquer outro local mais arejado? Francamente, esse local é totalmente desconexo do mundo e não tem nada a ver com o que penso. Perdi o meu tempo. Bem que eu poderia estar batendo uma bolinha com velho Sócrates lá no CT do Clube Ateniense e tomando uma Dionísia[1] estupidamente gelada!
            - Calma, Plata, não fique bravo. Não é você mesmo que diz: “tudo que ilude, encanta!”[2] Pois bem, esse local ilude e, por isso mesmo, encanta. Já fiz várias reflexões por aqui com o colega Zoroastro, oportunidade em que discutíamos sobre a crença no paraíso, na ressureição, no juízo final e na vida de um messias, esses papos mais amenos.
            - Papos mais amenos? Você acha que discutir o juízo final é um papo ameno?
            - Tudo depende de como as coisas são contadas, amigo Plata. Estamos aqui para “buscar a verdade essencial das coisas”[3].
            - E como você acha que vou buscar a verdade essencial das coisas nesse breu e sem inspiração alguma?
            - Cara, fica tranquilo que já pensei em tudo. Para chegar a essa verdade, eu trouxe um rango que não é bem um “banquete”, mas vai ajudar, afinal, saco vazio não para em pé. E também, trouxe outro negocinho aqui!
            - Que outro negocinho, Prancha?
            - Bem, já que a Lei das XII Tábuas (Lex Duodecim Tabularum ou Duodecim Tabulae, em latim) ainda não regulamentou a matéria como contravenção, trouxe um cigarrinho do capeta para vaporizar o ambiente e ajudar na inspiração. Assim, podemos ficar inspirados e sem aquele laricão!
            - Só você, hein, Prancha, para me tirar do sério!
            Instintivamente, Pranchú saca do farnel um tufo de planta canabácea[4], um delgado xantungue de seda e, com uma desenvoltura de um mestre Jedi, envolve tudo com apenas uma das mãos, transformando-se em um gigantesco charuto de cannabis! Com a outra mão, Pranchú pôs fogo em umas gramíneas utilizando-se da vetusta técnica fire starter[5]. Em seguida, o famigerado cigarro já estava aceso e em plena utilização.
            Após trinta minutos de um silêncio catatumbal, o diálogo recomeça com um clima mais aprazível!
            - Aê, Prancha, acho que você tinha toda razão! Esse cenário é perfeito para uma reflexão profunda. Sou capaz de discutir até mesmo sobre o juízo final e outros enfoques mais tranquilos. O ambiente me tranquiliza para pensar, afinal: “quando a mente está pensando, está falando consigo mesma.”[6] Olha só aqueles lindos pássaros fazendo uma harmoniosa revoada!
            - Ô Plata, acho que você não está enxergando direito, pois aquilo ali não é um bando de pássaros, mas um bando de morcegos. Não tem nada de bonito naquilo.
            - E daí, o que importa é o conceito!
            - Que conceito? Morcego é morcego e pronto! Esse escuro todo também não contribui para essa sua visão turva.
            - Prancha, “podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro. A real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.”[7]
            - Agora fudeu de vez! Você não está falando nada com nada.
            - Imagine esses lindos passarinhos...
            - Passarinhos o caralho, são morcegos, Plata!
            - Que seja! Imagine esses morcegos, que vivem em uma caverna escura, descobrindo o mundo de luz que tem lá fora. É como se libertassem de uma prisão interna e descobrissem a verdadeira essência das coisas para além do mundo sensível. É como se pudessem acreditar, desde que nasceram, que o mundo é de determinado modo e, então, descobrem que quase tudo aquilo é falso, parcial e que existem novos conceitos, totalmente diferentes.
            - Bicho, não sei que porra é essa que você está falando, mas pode ser que tenha algum sentido.
            - É como se os morcegos se libertassem de sua própria ignorância! Os morcegos que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá!
            - Caralho, o fi de rapariga está doidão! Plata, toma um pouco de água que você passou para o estágio de perturbado emocionalmente.
            - Prancha, os morcegos se libertam da ignorância. “A alma deseja voar de volta para casa, para o mundo das ideias. Ela que se libertar do cárcere do corpo” [8]
            - Vixe Maria!
            -“Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas: a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal.” [9]
            - Pronto, agora está poetizando a parada!
            - “Todo homem é poeta quando está apaixonado!” [10]
            -  É o que, Plata?
            - “Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o amor toma conta dele.”
            - Ok, Plata, essa conversa está tomando um rumo muito estranho. Estamos no meio de uma caverna bem escura e você vem com esse papinho de amor, apaixonado, coisa e tal! Que viadagem é essa?
            - “A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.”
            - Ignorância é o caralho! A única coisa que sei é que essa maconha está revelando o seu lado baitola! Pare de falar merda e tente volver em si.
            -“Tente mover o mundo. O primeiro passo será mover a si mesmo.” [11]
            - Foda-se! Agora dê o primeiro passo para mover a si mesmo e vamos para casa. Você já passou dos limites, seu maconheiro safado!
            Duas semanas após esse desconexo diálogo, Prancha e Plata se encontram em frente ao Liceu Ateniense, escola onde a turma da época estudava. Um pouco envergonhado, Plata enceta:
            - Amigo Prancha, peço escusas por aquele dia! Fiquei demasiado entorpecido e não me lembro de muita coisa. A única coisa que me lembro é que cheguei em casa e anotei no caderno algumas coisas sobre caverna, descobertas, luz, escuridão, sei lá, algo do gênero. No outro dia, quando fui ler, não entendi porra nenhuma. O caderno está lá, embaixo da minha escrivaninha e com um cheiro insuportável de maconha.
            - Tudo bem, acho que a marijuana subiu muito rápido para essa sua mente já ensandecida. Mas me diga uma coisa, e aquele papinho de amor, apaixonado, coisa e tal? Fiquei preocupado. Estás virando qualira[12]?
            - Não, amigo Prancha! Na verdade, estou totalmente arreado por uma bela e jovem gazela que mora nos arredores de minha humilde morada. Trata-se de uma vizinha cuja graça atende por Diotima de Mantinea[13]. Ela é tão especial que só tenho vontade de cultuá-la e não de tocá-la de forma alguma!
            - Você chegou pelo menos a conversar com ela?
            - Não, amigo Prancha, pois a única coisa que tenho desejo é de cultuá-la espiritualmente, pois a vida dela me ensina a genealogia do amor. Deve ser por essa razão que fiquei falando algumas coisas desconexas na caverna. A razão é simples: estou sofrendo por causa desse amor!
            - Plata, de filósofo à punheteiro, você é um bom sujeito. Em todo caso, existe posologia para o seu problema.
            Da narrativa acima, o filósofo e matemático Platão extraiu profundos conhecimentos acerca da filosofia pranchuriana e que daria ensejo a duas de suas principais obras e filosofias: A Alegoria da Caverna[14] e o Amor Platônico[15]. Da maconha na caverna ao mundo da filosofia, Platão redeu-se aos ensinamentos de Pranchú, embora, naquele instante de sua vida, ainda estivesse açoitado por um amor impossível por sua própria natureza. Nesse instante, Pranchú revela a posologia para a cura do amor não correspondido:
            - Para curar um amor platônico, só mesmo uma trepada homérica!

            Assim Falou Pranchú!


[1]. Cerveja oriunda de Dionísio, deus grego equivalente ao deus romano Baco, dos ciclos vitais, das festas, do vinho, da insânia, e, sobretudo, da intoxicação que funde o bebedor com a deidade.
[2]. Frase platônica.
[3]. A busca da verdade essencial das coisas é um dos objetivos principais da filosofia de Platão.
[4]. Cannabis sativa = maconha!
[5]. Acendimento de fogo por meio da fricção de uma pedra sob uma superfície áspera (outra pedra, piso ou madeira dura).
[6]. Frase platônica.
[7]. Frase platônica.
[8]. Frase platônica.
[9]. Frase platônica.
[10]. Frase platônica.
[11]. Frase platônica.
[12]. Qualira = perôba = baitola = viado = homossexual.
[13]. Diotima de Mantinea é uma filósofa e sacerdotisa grega com um papel importante no Banquete de Platão. A filosofia de Diotima está na origem do conceito platônico de amor. A única fonte sobre ela é o próprio Platão e por isso não é possível assegurar se era uma personagem ou alguém que de fato tenha existido. Entretanto, praticamente todos os personagens dos diálogos platônicos correspoderam a pessoas que viviam na antiga Atenas.
[14]. A “Alegoria da Caverna” foi um mito sucessivamente interpretado por Platão, simbolizando a metafísica, a gnoseologia, a dialética, a ética e a mística platônica. Em sua totalidade, é o mito que expressa Platão de forma abrangente, deixando muitos paralelos com os dias atuais.  REALE, Giovanni & ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. Vol. I, São Paulo: Edições Paulinas, 1990,  pág. 168.
[15]. Amor platônico, na acepção vulgar, é toda a relação afetuosa ou idealizada em que se abstrai o elemento sexual, como num caso de amizade pura, entre duas pessoas. Esta definição, contudo, difere da concepção mesma do amor ideal de Platão, o filósofo grego da Antiguidade, que concebera o Amor como algo essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O Amor, no ideal platônico, não se fundamenta num interesse (mesmo o sexual), mas na virtude. Fonte: Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Amor_plat%C3%B4nico)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O CHAMADO





    O chamado à labuta é imperdoável! Desde a revolução industrial que o capitalismo pegou o trabalhador pela goela e disse: “Acabou a boquinha!” Fomos enxotados do espaço bucólico rumo às quitinetes de quarenta metros quadrados onde antes apenas cabiam as vassouras de uma casa. E desde as indústrias a vapor, estamos mais e mais escravos de uma sociedade opressora onde o ócio criativo não passa de um argumento para vender livros, uma balela. Trabalha-se de 8 as 8 nos dias normais, sem hora extra. Esta é a rotina que aprisiona os trabalhadores e emburrece os terráqueos. 

    Pois bem, eis que em uma sexta-feira, não sei se 13, mas certamente uma sexta-feira, dois trabalhadores chegaram em casa. Apenas uma casa, pois seus lares estavam a quilômetros e quilômetros de distância. Aquela casa era apenas um agrupamento de trabalhadores que se uniam para prover o sustento aos seus. A sexta-feira é a conclusão de uma semana árdua de trabalho, onde o descanso não apenas se faz necessário quando corpo e mente exaustos reclamam: “ai ai ai meu cu! Tira, tira que tá doendo”. Os dois então se prostraram à televisão para consumir bobagens televisivas, deixando a televisão exercer seu papel de máquina de lavagem cerebral. Doravante daremos nomes aos bois para que os leitores ilustrem a dor e a vergonha dos personagens: Benício e Getúlio. O refúgio dos trabalhadores ainda conta com um terceiro personagem que atenderá pela alcunha de Saraiva. 

    Saraiva chegou em casa e viu seus iguais inertes, boquiabertos e salivando, tamanha a exaustão. A revolta lhe consumiu a alma, pois estava imbuído de forças para abrir as asas e varrer os recantos noturnos da cidade. Tal como Biaffra, queria “voar, voar ... subir, subir”. Chegou em casa com sangue nos olhos para fazer o culto à Baco e angariava parceiros para a empreitada. Parafraseou Padre Zezinho ao cantar: 
    
    Se ouvires a voz do Saraiva chamando pra biritar, a decisão é sua.” 

    Ao escutar o chamado Benício e Getúlio de pronto recusaram. Entretanto, a insistência de Saraiva, tal como o canto de uma sereia no cio, seduziu os mancebos, os quais se arrumaram para “dar uma voltinha pela night”.

    Saraiva os conduziu ao inferninho mais próximo e chegando lá lhes ofereceu o manjar etílico que mudaria o rumo dos eventos: uma long neck de Heineken para cada um. Sorveram o líquido com a vontade de um beduíno que atravessou desertos à procura de uma garrafa de Baré Cola. Neste momento viram o caminho, a verdade e a luz! Lembraram de um antigo poema hindu cuja penúltima estrofe diz: 

    “Se não for pra dar show num saia nem de casa!” 

    Entraram no inferninho com a força de uma horda de mongóis liderada por Gengis Khan. Destroçariam todas as virgens, ou melhor dizendo, descabaçariam todas as virgens caso virgens encontrassem. O balcão do bar era o altar do sacrifício onde várias e várias long necks foram “desta pra melhor”. Bebiam como se fosse o leite materno que jorrava dos seios de suas mães. Até aí tudo bem, pois como podemos lembrar frases do inconsciente coletivo: 

    “Eu bebo sim, estou vivendo. Tem gente que não bebe e tá se fudendo!” 

    O álcool acompanha a humanidade desde que andávamos curvos na saudosa era mesozoica. Entretanto, é sabido que este mesmo álcool é nosso amigo até a terceira garrafa. Daí em diante a levada se dá como cantam as crianças castrati no Vaticano antes do desjejum: 

    “Beba por sua conta e risco, pois cu de bebado aleatorius est!” 

    Foi neste ponto que a caça se virou contra o caçador. Benício simulava gestos obscenos com uma garrafa de cerveja ejaculando cevada nos convivas ao redor. Getúlio rolava pelo chão só pra ver com que cor ficaria a camisa branca. Seu Saraiva, ao ver a balbúrdia que seus amigos faziam no recinto, tentou organizar a putaria. Da lama ao caos e do caos à lama, onde os bêbados já chafurdavam e faziam do chão do bar sua morada .... Saraiva fez bico e demonstrou arrependimento, pois bêbado ruim é que nem farinha: “quando dá o vento, num tem quem ajunte”.

    O ponto alto foi quando Getúlio se indignou ao ver em sua conta uma Fanta ... O mancebo havia bebido centenas de cervejas e apareceu uma Fanta em sua conta. Ninguém segurou Getúlio: todos pra fora. Saraiva sentou-se no meio fio e escutou pelo resto da noite um mantra pranchuriano o entoado repetidamente por Benício e Getúlio: 

    Agora chame os amigos pra beber, chame !” 

Assim Falou Pranchú!