quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O CHAMADO





    O chamado à labuta é imperdoável! Desde a revolução industrial que o capitalismo pegou o trabalhador pela goela e disse: “Acabou a boquinha!” Fomos enxotados do espaço bucólico rumo às quitinetes de quarenta metros quadrados onde antes apenas cabiam as vassouras de uma casa. E desde as indústrias a vapor, estamos mais e mais escravos de uma sociedade opressora onde o ócio criativo não passa de um argumento para vender livros, uma balela. Trabalha-se de 8 as 8 nos dias normais, sem hora extra. Esta é a rotina que aprisiona os trabalhadores e emburrece os terráqueos. 

    Pois bem, eis que em uma sexta-feira, não sei se 13, mas certamente uma sexta-feira, dois trabalhadores chegaram em casa. Apenas uma casa, pois seus lares estavam a quilômetros e quilômetros de distância. Aquela casa era apenas um agrupamento de trabalhadores que se uniam para prover o sustento aos seus. A sexta-feira é a conclusão de uma semana árdua de trabalho, onde o descanso não apenas se faz necessário quando corpo e mente exaustos reclamam: “ai ai ai meu cu! Tira, tira que tá doendo”. Os dois então se prostraram à televisão para consumir bobagens televisivas, deixando a televisão exercer seu papel de máquina de lavagem cerebral. Doravante daremos nomes aos bois para que os leitores ilustrem a dor e a vergonha dos personagens: Benício e Getúlio. O refúgio dos trabalhadores ainda conta com um terceiro personagem que atenderá pela alcunha de Saraiva. 

    Saraiva chegou em casa e viu seus iguais inertes, boquiabertos e salivando, tamanha a exaustão. A revolta lhe consumiu a alma, pois estava imbuído de forças para abrir as asas e varrer os recantos noturnos da cidade. Tal como Biaffra, queria “voar, voar ... subir, subir”. Chegou em casa com sangue nos olhos para fazer o culto à Baco e angariava parceiros para a empreitada. Parafraseou Padre Zezinho ao cantar: 
    
    Se ouvires a voz do Saraiva chamando pra biritar, a decisão é sua.” 

    Ao escutar o chamado Benício e Getúlio de pronto recusaram. Entretanto, a insistência de Saraiva, tal como o canto de uma sereia no cio, seduziu os mancebos, os quais se arrumaram para “dar uma voltinha pela night”.

    Saraiva os conduziu ao inferninho mais próximo e chegando lá lhes ofereceu o manjar etílico que mudaria o rumo dos eventos: uma long neck de Heineken para cada um. Sorveram o líquido com a vontade de um beduíno que atravessou desertos à procura de uma garrafa de Baré Cola. Neste momento viram o caminho, a verdade e a luz! Lembraram de um antigo poema hindu cuja penúltima estrofe diz: 

    “Se não for pra dar show num saia nem de casa!” 

    Entraram no inferninho com a força de uma horda de mongóis liderada por Gengis Khan. Destroçariam todas as virgens, ou melhor dizendo, descabaçariam todas as virgens caso virgens encontrassem. O balcão do bar era o altar do sacrifício onde várias e várias long necks foram “desta pra melhor”. Bebiam como se fosse o leite materno que jorrava dos seios de suas mães. Até aí tudo bem, pois como podemos lembrar frases do inconsciente coletivo: 

    “Eu bebo sim, estou vivendo. Tem gente que não bebe e tá se fudendo!” 

    O álcool acompanha a humanidade desde que andávamos curvos na saudosa era mesozoica. Entretanto, é sabido que este mesmo álcool é nosso amigo até a terceira garrafa. Daí em diante a levada se dá como cantam as crianças castrati no Vaticano antes do desjejum: 

    “Beba por sua conta e risco, pois cu de bebado aleatorius est!” 

    Foi neste ponto que a caça se virou contra o caçador. Benício simulava gestos obscenos com uma garrafa de cerveja ejaculando cevada nos convivas ao redor. Getúlio rolava pelo chão só pra ver com que cor ficaria a camisa branca. Seu Saraiva, ao ver a balbúrdia que seus amigos faziam no recinto, tentou organizar a putaria. Da lama ao caos e do caos à lama, onde os bêbados já chafurdavam e faziam do chão do bar sua morada .... Saraiva fez bico e demonstrou arrependimento, pois bêbado ruim é que nem farinha: “quando dá o vento, num tem quem ajunte”.

    O ponto alto foi quando Getúlio se indignou ao ver em sua conta uma Fanta ... O mancebo havia bebido centenas de cervejas e apareceu uma Fanta em sua conta. Ninguém segurou Getúlio: todos pra fora. Saraiva sentou-se no meio fio e escutou pelo resto da noite um mantra pranchuriano o entoado repetidamente por Benício e Getúlio: 

    Agora chame os amigos pra beber, chame !” 

Assim Falou Pranchú!

Um comentário:

  1. Agora eu entendo porque tantos cabelos brancos, né Sr. Saraiva??? kkkkkkk

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