O chamado à labuta
é imperdoável! Desde a revolução industrial que o capitalismo
pegou o trabalhador pela goela e disse: “Acabou a boquinha!”
Fomos enxotados do espaço bucólico rumo às quitinetes de quarenta
metros quadrados onde antes apenas cabiam as vassouras de uma casa. E
desde as indústrias a vapor, estamos mais e mais escravos de uma
sociedade opressora onde o ócio criativo não passa de um argumento
para vender livros, uma balela. Trabalha-se de 8 as 8 nos dias
normais, sem hora extra. Esta é a rotina que aprisiona os
trabalhadores e emburrece os terráqueos.
Pois
bem, eis que em uma sexta-feira, não sei se 13, mas certamente uma
sexta-feira, dois trabalhadores chegaram em casa. Apenas uma casa,
pois seus lares estavam a quilômetros e quilômetros de distância.
Aquela casa era apenas um agrupamento de trabalhadores que se uniam
para prover o sustento aos seus. A sexta-feira é a conclusão de uma
semana árdua de trabalho, onde o descanso não apenas se faz
necessário quando corpo e mente exaustos reclamam: “ai ai ai
meu cu! Tira, tira que tá doendo”. Os dois então se
prostraram à televisão para consumir bobagens televisivas, deixando
a televisão exercer seu papel de máquina de lavagem cerebral.
Doravante daremos nomes aos bois para que os leitores ilustrem a dor
e a vergonha dos personagens: Benício e Getúlio. O refúgio dos
trabalhadores ainda conta com um terceiro personagem que atenderá
pela alcunha de Saraiva.
Saraiva chegou em
casa e viu seus iguais inertes, boquiabertos e salivando, tamanha a
exaustão. A revolta lhe consumiu a alma, pois estava imbuído de
forças para abrir as asas e varrer os recantos noturnos da cidade.
Tal como Biaffra, queria “voar, voar ... subir, subir”.
Chegou em casa com sangue nos olhos para fazer o culto à Baco e
angariava parceiros para a empreitada. Parafraseou Padre Zezinho ao
cantar:
“Se ouvires a
voz do Saraiva chamando pra biritar, a decisão é sua.”
Ao escutar o
chamado Benício e Getúlio de pronto recusaram. Entretanto, a
insistência de Saraiva, tal como o canto de uma sereia no cio,
seduziu os mancebos, os quais se arrumaram para “dar uma voltinha
pela night”.
Saraiva os conduziu
ao inferninho mais próximo e chegando lá lhes ofereceu o manjar
etílico que mudaria o rumo dos eventos: uma long neck de Heineken
para cada um. Sorveram o líquido com a vontade de um beduíno que
atravessou desertos à procura de uma garrafa de Baré Cola. Neste
momento viram o caminho, a verdade e a luz! Lembraram de um antigo
poema hindu cuja penúltima estrofe diz:
“Se não for
pra dar show num saia nem de casa!”
Entraram no
inferninho com a força de uma horda de mongóis liderada por Gengis
Khan. Destroçariam todas as virgens, ou melhor dizendo,
descabaçariam todas as virgens caso virgens encontrassem. O balcão
do bar era o altar do sacrifício onde várias e várias long necks
foram “desta pra melhor”. Bebiam como se fosse o leite materno
que jorrava dos seios de suas mães. Até aí tudo bem, pois como
podemos lembrar frases do inconsciente coletivo:
“Eu bebo sim,
estou vivendo. Tem gente que não bebe e tá se fudendo!”
O álcool acompanha
a humanidade desde que andávamos curvos na saudosa era mesozoica.
Entretanto, é sabido que este mesmo álcool é nosso amigo até a
terceira garrafa. Daí em diante a levada se dá como cantam as
crianças castrati no Vaticano antes do desjejum:
“Beba por sua
conta e risco, pois cu de bebado aleatorius est!”
Foi neste ponto que
a caça se virou contra o caçador. Benício simulava gestos obscenos
com uma garrafa de cerveja ejaculando cevada nos convivas ao redor.
Getúlio rolava pelo chão só pra ver com que cor ficaria a camisa
branca. Seu Saraiva, ao ver a balbúrdia que seus amigos faziam no
recinto, tentou organizar a putaria. Da lama ao caos e do caos à
lama, onde os bêbados já chafurdavam e faziam do chão do bar sua
morada .... Saraiva fez bico e demonstrou arrependimento, pois bêbado
ruim é que nem farinha: “quando dá o vento, num tem quem
ajunte”.
O ponto alto foi
quando Getúlio se indignou ao ver em sua conta uma Fanta ... O
mancebo havia bebido centenas de cervejas e apareceu uma Fanta em sua
conta. Ninguém segurou Getúlio: todos pra fora. Saraiva sentou-se
no meio fio e escutou pelo resto da noite um mantra pranchuriano o
entoado repetidamente por Benício e Getúlio:
“Agora chame
os amigos pra beber, chame !”
Assim Falou
Pranchú!
Agora eu entendo porque tantos cabelos brancos, né Sr. Saraiva??? kkkkkkk
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