
Os pés postados, alinhados e sustentados apenas
pelos dedos. As pernas estavam ligeiramente inclinadas, as costas arqueadas e o
peito estufado. Os braços totalmente levantados e as mãos ficavam juntas como
quem faz uma última prece. A cabeça era um caldeirão ensandecido que continha
um ingrediente peculiar: os grandes medos.
Flash
da vida em um momento de concentração. Todos os medos eram agrupados e
divididos em matérias do saber humano: biologia, física, matemática, química,
filosofia, entre outras. O medo do arrependimento era o único que ainda não
estava à mercê de qualquer disciplina, pois até então não havia sido
conjeturado.
Quando
menos se espera o movimento acontece. Agora mesmo é que não havia como se
arrepender. Tratava-se de uma equação física bastante peculiar carreada pela
mecânica da vida, ou quem sabe da morte. O coração ficava apertado e a
respiração difícil.
Nesse
momento ocorre um instante único, a perpetuação de alguns segundos. É uma
sensação inenarrável, pois é a mistura de todos os sentidos e sentimentos em
contraste com os grandes medos. O prazer vem desde o início da escolha do
desiderato. A emoção, se for considerada em suas devidas proporções, não cessa
em momento algum. A alegria é denunciada pelo sorriso fácil e prazeroso. O vento
conota o delicioso perfume da liberdade, considerando as suas dimensões, é
claro.
Já os
grandes medos estavam esculpidos no desconhecimento do que estava por vir, na
possibilidade de sentir dor, tristeza, amargura, sofrimento e, até mesmo, o
autoflagelo. Mas, o que seria da vida sem os grandes medos? O que seria da
virtude sem o medo? Afinal, “quem não tiver a prudência por serva, tenha-a
por amiga”. (Baltazar Gracián – A Arte da Prudência)
O
corpo invertido já estava totalmente ereto, em movimento progressivo,
velocidade escalar, trajetória, força, propriedade da matéria, massa, peso e a
terceira lei de Newton, era o diagrama do bonequinho em movimento e em
consonância com a física. A velocidade final estava estampada na careta e no
primeiro toque da mão naquele líquido gelado e contundente.
O
movimento seguinte já era encharcado de prudência e felicidade diante de quem
passou pelo mais difícil e agora bebia o saboroso líquido da vitória. A
sensação de ter conseguido vencer o medo é o melhor prêmio para quem desafia a
vida de peito aberto e com o sorriso no rosto.
As
possibilidades que a vida nos dá é uma dádiva que devemos saber aproveitar.
Surge, então duas opções na vida: ou vivemos com medo e não nos damos a chance
de viver sensações avassaladoras; ou abstraímos o medo em forma de virtude para
vivermos tudo de bom que a vida oferece.
Não
quer dizer que sejamos tolos a ponto de virarmos Kamikazes da vida moderna,
apenas verificamos que o medo, de certa forma, nos guia para bons lados, mas
não devemos deixar que ele nos domine.
O
domínio dos nossos medos nos conduz a facetas surpreendentes que até mesmo
duvidamos, a exemplo de quem encara desafios com o peito aberto, entrega-se a
uma paixão sem estar preso às contingências da vida, abandona o paradigma de
estar atrelado a convenções, vive sem estar a mercê do que os outros poderiam
pensar e ainda sorri da própria situação.
O
domínio dos nossos medos poderá nos levar a lugares e sensações inigualáveis,
como o maravilhoso e enigmático salto do penhasco em Acapulco, no México, supra
descrito como a mistura de sentidos e sentimentos em contraste com todos medos
que temos na vida.
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