segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O MEDO EM DOMÍNIO


            Os pés postados, alinhados e sustentados apenas pelos dedos. As pernas estavam ligeiramente inclinadas, as costas arqueadas e o peito estufado. Os braços totalmente levantados e as mãos ficavam juntas como quem faz uma última prece. A cabeça era um caldeirão ensandecido que continha um ingrediente peculiar: os grandes medos.
         Flash da vida em um momento de concentração. Todos os medos eram agrupados e divididos em matérias do saber humano: biologia, física, matemática, química, filosofia, entre outras. O medo do arrependimento era o único que ainda não estava à mercê de qualquer disciplina, pois até então não havia sido conjeturado.
         Quando menos se espera o movimento acontece. Agora mesmo é que não havia como se arrepender. Tratava-se de uma equação física bastante peculiar carreada pela mecânica da vida, ou quem sabe da morte. O coração ficava apertado e a respiração difícil.
         Nesse momento ocorre um instante único, a perpetuação de alguns segundos. É uma sensação inenarrável, pois é a mistura de todos os sentidos e sentimentos em contraste com os grandes medos. O prazer vem desde o início da escolha do desiderato. A emoção, se for considerada em suas devidas proporções, não cessa em momento algum. A alegria é denunciada pelo sorriso fácil e prazeroso. O vento conota o delicioso perfume da liberdade, considerando as suas dimensões, é claro.
         Já os grandes medos estavam esculpidos no desconhecimento do que estava por vir, na possibilidade de sentir dor, tristeza, amargura, sofrimento e, até mesmo, o autoflagelo. Mas, o que seria da vida sem os grandes medos? O que seria da virtude sem o medo? Afinal, “quem não tiver a prudência por serva, tenha-a por amiga”. (Baltazar Gracián – A Arte da Prudência)
         O corpo invertido já estava totalmente ereto, em movimento progressivo, velocidade escalar, trajetória, força, propriedade da matéria, massa, peso e a terceira lei de Newton, era o diagrama do bonequinho em movimento e em consonância com a física. A velocidade final estava estampada na careta e no primeiro toque da mão naquele líquido gelado e contundente.
         O movimento seguinte já era encharcado de prudência e felicidade diante de quem passou pelo mais difícil e agora bebia o saboroso líquido da vitória. A sensação de ter conseguido vencer o medo é o melhor prêmio para quem desafia a vida de peito aberto e com o sorriso no rosto.
         As possibilidades que a vida nos dá é uma dádiva que devemos saber aproveitar. Surge, então duas opções na vida: ou vivemos com medo e não nos damos a chance de viver sensações avassaladoras; ou abstraímos o medo em forma de virtude para vivermos tudo de bom que a vida oferece.
         Não quer dizer que sejamos tolos a ponto de virarmos Kamikazes da vida moderna, apenas verificamos que o medo, de certa forma, nos guia para bons lados, mas não devemos deixar que ele nos domine.
         O domínio dos nossos medos nos conduz a facetas surpreendentes que até mesmo duvidamos, a exemplo de quem encara desafios com o peito aberto, entrega-se a uma paixão sem estar preso às contingências da vida, abandona o paradigma de estar atrelado a convenções, vive sem estar a mercê do que os outros poderiam pensar e ainda sorri da própria situação.

         O domínio dos nossos medos poderá nos levar a lugares e sensações inigualáveis, como o maravilhoso e enigmático salto do penhasco em Acapulco, no México, supra descrito como a mistura de sentidos e sentimentos em contraste com todos medos que temos na vida.

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