Na história
mundial, inúmero são os casos de indivíduos que procuram voluntariamente a
morte, como Adolf Hitler e Eva Braun, Getúlio Vargas, Santos Dumont, Kurt
Cobain e tantos outros que se perderam nas brumas do próprio tempo. Segundo o
sociólogo Émile Durkheim, os tipos mais característicos de suicídios foram
classificados em egoísticos (desajustamento), na moderna sociedade, e os
altruísticos, nas sociedades primitivas e tradicionais.
O
suicídio egoístico resulta-se da não integração do indivíduo à sociedade e do
desajustamento, que é a ausência de padrões sociais que regulam o comportamento
do indivíduo. O indivíduo altruísta, integrado na sociedade, utiliza a sua vida
em obediência aos costumes sociais e o suicídio será uma obrigação, um ato
relevante, como o dos brâmanes, gregos, japoneses hara-kiri e, atualmente, os
monges budistas do Sudoeste Asiático.
No
Brasil também temos os nossos próprios suicidas anônimos que, em um ato
desesperado, buscam a outra vida pelas próprias mãos. Trata-se de um suicídio
altruístico e institucionalizado pela alcunha de matrimônio, o vetusto
casamento. O casamento parece uma doença que, quando não mata, deixa aleijado.
Teorias psicológicas, baseadas nas ideias do afrescalhado Freud, ligam as
causas desse suicídio matrimonial ao estudo da autoacusação, ressentimento e
frustração.
O suicídio
começa na simples afirmação: “aceito!” Pronto, o suicídio se concretizou pelas
próprias mãos que assinaram os proclamas e colocaram o anel-enforcamento. Nada
mais de cerveja depois do trabalho, futebol com os amigos só depois de ir ao
supermercado, shows só os que não fizerem barulho, cinema com filme sem ação e,
para rimar, sinuca nunca.
O sujeito
começa a observar os amigos com aquele ar de nostalgia: “Ah, os meus tempos de solteiro; Tempos que não voltam; Tempos em que a
aurora da minha vida era Aurora (árdua trabalhadora de empreitada em uma
conhecida casa de recursos humanos na Av. Índios Cariris, em Campina Grande , na
Paraíba).” Em meio dessa instigante divagação filosófica ouve-se um grito
esguio de dentro da cozinha:
“- Imprestável, não sabe nem comprar um
litro de leite!”
Enfim,
mesmo diante de todas as adversidades que este ato vil traz para a sociedade,
grande parte das pessoas se suicida dessa forma. Foi o que aconteceu há alguns
anos com um colega de Aracajú, um sujeito que passou a residir na capital do
país e cuja graça atende por Flávio Pboy.
Ele se
enforcou com uma aliança de 24 quilates e 25 quemordem, fato que também
ocasionou uma contenção de despesas resultantes dos embalos de sábado à noite
no Plano Piloto. Bem, o hobby dele passou a ser o de colecionar e-mails de
casamento para enviar aos amigos e, ao que parecia, ele fazia isso por meio de
mala direta, em que os e-mails eram dispostos com seguintes dizeres: “o casamento é um sacramento imortal”,
ou “o casamento é uma obra de divina!”,
ou ainda, “o casamento é a introspecção
da natureza humana!”.
Foi nesse instante que refleti no que realmente consiste
o suicídio, pois enquanto o suicida ficar somente no suicídio, tudo bem, afinal
o problema é dele. Mas, a partir do momento em que o suicida instiga ou induz
para que outros possam se suicidar também, aí o problema passa a ser de ordem
pública, incidindo no que preceitua o art. 122 do Código Penal, que dispõe como
crime o ato de induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio
para que o faça.
O suicídio-altruístico-matrimonial, como obra divina, é o
único que tem testemunha, e logo duas, no mínimo. É a própria morte assistida e
comemorada, uma espécie de eutanásia da piroca. Como ser complacente com
tamanho infortúnio pós-moderno? Ora, não sendo. Irresignado com essa barbárie
recente do caro colega Pboy, por intermédio da mídia virtual, sinto-me na
obrigação moral de afirmar:
“-Se quiser casar,
case! Mas nunca instigue alguém ao suicídio.”
Que
o seu suicídio altruístico não se transforme em egoístico, pois, como disse o
sábio Pranchu na invasão de São José da Lagoa Tapada pelos Fenícios:
“- Casamento é bom, mas morrer queimado deve
ser bem melhor!”
Assim falou Pranchú![1]
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