Em
analogia à conhecida revista Guia 4 Rodas, surgiu a ideia deste pequeno
opúsculo, que visa estabelecer um parâmetro higiênico, cultural e social dos
mais recônditos locais do Brasil em face do que convencionamos a chamar de
Banheiro, Mictório, WC, etc. Em outras palavras, trata-se de um guia de rodagem
e conhecimento do Brasil através dos banheiros. Entenda-se o termo "rodagem"
na acepção mais prosaica da palavra, ou seja, o velho ato, costume, vício e/ou
mania de cagar, mijar, escarrar e/ou descascar a macaxeira propriamente dita.
Parafraseando o Código dos Biriteiros, a base
epistemológica deste guia é "A Teoria" de Ariano Suassuna: "qualquer
motivo serve para cagar ou mijar". Para conhecer o Mundo Através do
Fundo faz-se necessária muita coragem e ousadia, pois onde há aquele cheiro
fedorento de ovo podre, há fungos e bactérias. Nesse ínterim, mijar, cagar ou
descascar em um ambiente como esse passa a ser uma tarefa que necessita de
muito sangue-frio, pois é a mesma coisa de oferecer o bilau ou o boga em
sacrifício. Há, porém, uma restrição a temática, em virtude do amplo campo de
incidência da pesquisa, mas partiremos pelo princípio da roda. O princípio da
roda surge da premissa “A Bunda e a Bondade em Nome da Humanidade”, em
que o cidadão pesquisador botará, literalmente, o seu rabo na reta em prol da
humanidade.
Urge estabelecer, portanto, uma classificação de
categorias de banheiros ou mictórios de forma que não vingue, de maneira
enviesada, a profecia aguinaldiana do “é de bolo”. Arquitetonicamente
os banheiros não diferem muito uns dos outros, eis que sua finalidade básica é
sempre a mesma: cagar, mijar e/ou descascar. Em termos de paisagismo já diferem
um pouco, podendo apresentar diferenças no que tange às louças (para mijadas
individuais ou coletivas), às caixas de descargas com a cordinha que nunca
funciona, ao bocal sem lâmpada, ao ralo coletivo, ao papel higiênico (quando
tem) esfola brega, ao espelho rachado, às portas da privada tem sempre a frase “quem
comeu fulaninha marque um X”, enfim, as mais diversas animosidades
possíveis.
Há também banheiros ou mictórios que oferecem uma atração
a mais, permitindo na mijada in loco uma certa alternativa de lazer.
Alguns mictórios possuem bolinhas de naftalina no receptáculo urinário, onde o
mijante se sente fortemente atraído em treinar a pontaria nas naftalinas,
ficando até orgulhoso quando consegue inverter a posição das bolinhas num jato
só. Há outros mictórios que são decorados com aquelas metades de limão que
sobraram das caipirinhas, com o pequeno inconveniente de atrair aqueles
mosquitinhos de privada que ficam revoando a cara do cidadão mijante.
Nesse sentido, diante da vasta gama de ambientes
urinários, há um parâmetro para classificação do Guia Uma Roda, que surge da
convicção de cada um pesquisador em potencial, dividindo-se nas seguintes
classes de banheiros (fundamentadas nas disposições da Lei N.° 51, de 12 de fevereiro
de 2000, o Código dos Biriteiros):
A – Os Uma Roda (Classificação Máxima):
B
– Os Uma Rodinha (Qualidade Média):
C
– Os Utilizáveis (Qualidade Identificável):
D
– Os Imundos (Qualidade Suspeita);
E
– Os Antagônicos (Sem Qualidade Alguma, também conhecido como Banheiro Puta Que
Pariu – BPQP, bem como outros adjetivos não menos elucidativos).
É impossível um ser humano não ter adentrado em recintos
como esses, nem o mais pio e devotado seguidor da cátedra do francês
afrescalhado “toilette”. Se a vida é adjetivosa eu não sei! Só sei que o
mundo pode ser conhecido através do ofício bogal. É na estupenda arte de
exorcizar um caboclo, no momento de homenagear uma gazela ou no singelo ato de
mijar que descobrimos o quanto conhecemos o mundo.
É
justamente imbuído desse sentimento que lembramo-nos das vetustas palavras de
Pranchú, quando da descoberta que a merda nos faz melhores justamente porque
descobrimos o verdadeiro sentido da prudência:
“Antes de falar, ouça. Antes de agir, pense.
Antes de desistir, tente. Antes de cagar, veja se tem papel!”
Assim
Falou Pranchú!