terça-feira, 22 de julho de 2014

FACAS GINSU VERSUS MEIAS VIVARINA


            Composta por um cabo de resistência peculiar, feito de uma liga de aço leve, uma lâmina de aço galvanizado e afiada com laser, as Facas Ginsu prometem superar o imaginário daqueles que vêem numa faca apenas um objeto culinário sem maiores proporções. As Facas Ginsu cortam qualquer tipo de coisa, de um simples papel até cabos de aço reforçado. Na compra de um jogo de Facas Ginsu, você leva, inteiramente grátis, um óculos de sol Ambervision.
            Em outro reclame, trata-se de um tecido composto por micro-partículas de um nylon desenvolvido pela NASA, fazendo com que não desfie e nem solte as tiras. Estamos falando, é claro, das Meias Vivarina, as únicas que resistem ao uso contínuo e prolongado sem se danificar. As Meias Vivarina resistem aos duros golpes de objetos cortantes, perfurantes e contundentes, formando uma espécie de armadura pós-moderna. Na compra de uma Meia Vivarina, leve, inteiramente grátis, um Ab-flex (Escultor Abdominal).
            O que os inventores não fazem para vender os seus produtos hoje em dia! Um promete a destruição total de tudo o que a lâmina de uma faca possa tocar. Já o outro produto oferece uma resistência jamais vista em um tecido, podendo servir até mesmo como uma espécie de armadura para o quotidiano. 
            Um destrói e o outro resiste. Nos dias de hoje, esta assertiva parece bem peculiar em meio à guerra que está acontecendo entre judeus e palestinos. São os desígnios da criação a serviço do criador. Em uma batalha inteligível, porém com propósito enviesado, as Facas Ginsu tenta usar o seu fio de alta precisão para rechaçar toda a resistência das Meias Vivarina.
            É uma batalha cruel, mas as Meias Vivarina resistem bravamente, uma vez que possuem um material desenvolvido pela NASA, ou porque não dizer, pelo governo de Israel. Em meio a isso, a pessoa que está usando as Meias Vivarina poderá ser cortada em vários pontos, causando destruição em lugares que não tem nada com esta batalha.
            As Meias Vivarina, muito apreciadas na Faixa de Gaza, aproveitam as peculiaridades do local onde está sendo travada a batalha e o único artifício da Faca Ginsu é diagnosticado pela sigla TT (Truculência e Tecnologia).
            Há, ainda, outra batalha a ser levada em consideração. Trata-se da guerra do marketing. Ora, quem compra as Facas Ginsu leva, inteiramente grátis, um óculos de sol Ambervision, que é para tapar o sol com a peneira. Os óculos de sol Ambervision também faz com que a visão do cliente fique turva, ocultando o que realmente se passa ao redor.
            Já as Meias Vivarina oferecem inteiramente grátis, em sua propaganda, um Ab-flex (Escultor Abdominal), com a possibilidade do consumidor deste produto ter que malhar e suar muito caso opte por esta escolha. É uma espécie de política de animosidades para quem aceita usar ou defender as Meias Vivarina.
            Uma coisa é certa, na guerra mercadológica e publicitária entre as Facas Guinso (a intolerância israelense) e as Meias Vivarina (a resistência palestina) quem perde é a sociedade, que fica vislumbrada com um pseudo-objetivo de ambas e alienada por uma política beligerante inconsequente. A desproporcionalidade dessa guerra se constitui em um evidente massacre e diversos crimes contra a humanidade, mas, enquanto isso, estamos mais preocupados com a nossa pequenez.
            E viva o Brasil, que é o mesmo freguês do mercado de violência que produz, e viva a viva as Havaianas, que não deformam e não soltam as tiras. E assim, parafraseando as encíclicas pranchurianas quanto a publicidade perdida, remeto o epílogo a uma profunda reflexão filosófica acerca de alguns conceitos existenciais:

         “Para quê papel higiênico em alto relevo se o toba não lê em braile?”
           

            Assim falou Pranchú!!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

O CASAMENTO WICCA





            Pranchú, em uma de suas solitárias peregrinações, fazia um breve descanso próximo a um conhecido convento localizado nas cercanias de Lagoa Seca, região localizada no brejo paraibano. Ao descansar reservadamente em baixo de um pé-de-castanhola, Pranchú observou uma cena bastante inusitada e que, ao par de suas reflexões, germinaria uma curiosa filosofia.
             Um casal de noivos, devidamente paramentado, saiu da Gruta Virgem dos Pobres e dirigiu-se para o Convento, conhecido como Ipuarana. Uma hora depois, o casal saiu do convento e encaminhou-se para um frondoso bosque que ficava próximo, local onde havia uma espécie de altar e alguns troncos de madeira. Naquele instante, os noivos sacaram dois cálices, proferiram alguns juramentos, beberam o vinho e, em seguida, quebraram os copos, como sendo uma espécie de cerimônia restrita e bastante circunspeta. Em seguida, o casal de noivos saiu do bosque e, por acaso do destino, se depararam com o onipresente Pranchú.
            Tomado de assalto e felicidade por encontrar o conhecido filósofo, sobretudo em um momento tão especial, o casal aproveitou o ensejo para agradecer ao destino e solicitar que o mestre concedesse uma bênção ao novo par, rogando que lhes fossem bridados com votos de eterna felicidade.
            - Oh, mestre Pranchú, vistes que casamos à luz de Deus e, agora que sacramentamos o nosso amor, pergunto: como fazer para que o nosso amor seja eterno?
            - Que vocês sejam felizes por quanto tempo durar o amor!
            - Mestre, o senhor deseja que sejamos felizes enquanto o amor durar? Ora, e isso tem prazo de validade? Assim não, só se for para a vida toda!
            - Meus queridos, que tipo de casamento foi esse que vocês acabaram de realizar?
            O noivo responde:
            - Um casamento bem pessoal em que juntamos a nossa fé e algum significado do casamento judaico, como a quebra de copos como uma promessa de amor eterno! Não seria isso, mestre?
            - Não, meus jovens, vocês acabaram de celebrar um casamento Wicca[1]. Trata-se de uma religião relacionada a rituais ligados ao campo e à natureza, sendo uma forma de agradecimento e oferenda aos deuses que já existiram. A promessa do casamento Wicca é “por quanto tempo durar o amor”, em vez da tradicional promessa cristã de que “até que a morte nos separe”.
            A noiva, um pouco atônita, questiona novamente ao mestre:
            - Ora, mestre, mas como fazer para que o nosso amor seja eterno?
            E o mestre responde:
            - O amor pode morrer em vida ou transcender a morte. A sua medida não é a eternidade, mas a sua própria existência. Que seja eterno enquanto dure!
            As palavras de Pranchú não foram bem aquelas que os noivos gostariam de ouvir, mas eles agradeceram e seguiram o caminho. Certamente eles iriam aprender à duras penas o que o filósofo quis repassar. Em todo caso, antes de saírem, Pranchú fez uma breve retificação em sua homilia, passando à conotação mais libertina do casamento:
            “- A vida de casado é muito boa, só perde para a de solteiro. Sendo assim, que seja eterno enquanto dura!”

            Assim falou Pranchú!


[1]. Wicca é uma religião neopagã influenciada por crenças pré-cristãs e práticas da Europa ocidental que afirma a existência do poder sobrenatural (como amagia) e os princípios físicos e espirituais masculinos e femininos que interam a natureza, e que celebra os ciclos da vida e os festivais sazonais, conhecidos como Sabbats, os quais ocorrem, normalmente, oito vezes por ano.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

DA EMBRIAGUEZ E SUA CIÊNCIA




            O vício da embriaguez na juventude acumula reservas para aumentar os acharques da velhice.
            Pois bem, partindo da premissa acima, Pranchú resolveu demover dois de seus seguidores da ideia de beber, pois eles estavam se embriagando praticamente todos os dias. Não que fossem alcoólatras contumazes, mas eram contumazes em ser alcoólatras, ainda que não ficassem embriagados todos os dias.
            Adamastor, ou simplesmente Totó, era parente de Pranchú e trabalhava como comerciante, vendia de tudo. Já Babaloo, ou simplesmente Baba, era amigo de infância do filósofo e trabalhava no atacado, um hora ele atacava de vendedor da Amway outrora como vendedor, muambeiro, engenheiro, etc. Em comum, ambos gostavam muito da caeba e demais fuleragens diárias.
            Pranchú, missionado na ideia acima, pergunta inicialmente para Totó:
            - Caro Totó, seja sincero, você gostaria de parar de beber?
            - Oxe, deixar por quê? Mestre, se eu fizer isso certamente começarei de novo. É aquela velha história: pior do que a doença é a recaída! Deixo nada!
            - E tu Baba, gostaria de parar de beber?
            - Mestre, tenho pancreatite, bursite, artrite, tendinite, bronquite, amigdalite, gastroenterite e atualmente estou com laringite e conjuntivite. É “ite” demais para uma pessoa só. Ao contrário de Totó, eu gostaria muito de parar de beber! Se isso acontecesse de fato, te garanto Mestre, eu tomaria um porre tão grande que seria capaz de morrer dele...
            E assim, na mais singela objetividade, Pranchú encerra o diálogo com um breve diagnóstico para a embriaguez moral dos dois sicofantas:
            “Enquanto o corpo estiver tomando mais cerveja do que remédios, tudo estará sadio!”

            Assim falou Pranchú!!