terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A CANTADA EM TEMPO DE FIM DOS TEMPOS



            É hoje! Se não for, então está perto!
            Bem, pelo menos para alguns o fim dos tempos se aproxima em razão de uma profecia maia. O fenômeno 2012 compreende um conjunto de crenças escatológicas segundo as quais eventos cataclísmicos ou transformadores acontecerão em 21 de dezembro de 2012. Esta data é considerada como o último dia de um ciclo de 5.125 anos do calendário de contagem longa mesoamericano, ou seja, o fim do mundo para o calendário maia fundamentado por meio de um conjunto de alinhamentos astronômicos e fórmulas matemáticas diversas. Para o incauto apenas uma palavra: fudeu!
            Nesse momento é que as velhas cantadas dos tempos de Guerra Fria, do Bug do Milênio e demais profecias nostradâmicas estão de volta. É muito simples, tudo começa com o vetusto discurso que enceta o deadline do mundo e o medo da desgraça generalizada. Nesse contexto, é bom incutir referências maias do 13º baktun em 2012, o Apocalipse bíblico, o Armagedon televisivo e até mesmo a contagem regressiva iniciada pelo Cometa Halley.
            Resta, entretanto, potencializar a desgraça com enfoques políticos, econômicos e até mesmo sociológicos. Obviamente, uma coisa puxa a outra. Basta fazer uma explanação sobre a teoria do caos, como se o que restasse do mundo, após o seu fim, fosse algum tipo de economia mais rudimentar que existe. O cidadão não teria o que comer e, por fim, o caos reinaria calmamente no meio de pessoas aflitas.
            Pronto! Basta cascatear todo imbróglio acima e, em seguida, acrescentar o finado discurso amoroso:
            - Já que o mundo pode se acabar de uma hora para outra, por que não vamos para cama antes que seja tarde demais?
            É claro que tem variantes menos educadas de tal discurso. É o terrorismo do esquema, da cantada, da paquera ou da putaria institucionalizada pela desgraça que ronda o nosso planeta.
Esses discursos nostradâmicos podem se efetivar ainda melhor depois que o sujeito fizer uma restrição temática acerca dos indicativos dos fins dos tempos no Brasil: político condenado, bicheiro condenado, Corinthians campeão de Libertadores e, principalmente, a morte do Highlander Oscar Niemeyer. Pronto, todos os ingredientes de uma autêntica bomba atômica.
            Mesmo o cidadão que mora no cariri, região onde não chove e o mato é verde, é passível de aplicar a técnica. Sabe-se lá se um meteorito ou alguma arca de Noé vai cair na plantação de milho ou feijão de corda. Na dúvida, o argumento do galanteador deve ser objetivo: é melhor dá logo o oiti antes que o mundo acabe.
            A moçoila fica pensativa, coça o queixo e fica perplexa diante de tantas possibilidades. O sujeito, então, faz a pergunta fatal e a possibilidade vira fato consumado. É batata novamente! A gazela se entrega para manutenção sexual, lembrando-se, é claro, daqueles olhinhos pidões e enfeitados pelas sobrancelhas do finado Oscar Niemeyer e a certeza que jamais o mundo iria acabar.
            Se depois de todo esse argumento a gazela não ceder à lasciva do galanteador apocalíptico, este poderá apelar para as instâncias superiores. É fácil o argumento, basta apimentar o imbróglio com muita religião, fé no outro mundo e no arrependimento pelo que não fez nessa vida, já que o mundo vai se acabar de todo jeito. Ao final, a pergunta do “dá ou desce” parece até mais amena e a moça aceita de bom grado, podendo entregar-se à lasciva:
            - Pare, pelo amor de Deus! Não precisa falar mais nada! Eu dou, eu dou, eu dou! Diga onde?
            Essa tática foi a única que Maquiavel não descreveu no capítulo reservado para a arte da conquista em sua obra “O Príncipe”. Talvez se começasse a descrever a posologia da conquista amorosa, Maquiavel teria obrigatoriamente que criar um novo capítulo em sua obra: Do Terror e da Testosterona: O Aterrorizante Discurso do Amor.
            Se nada disso funcionar para dar azo à subsistência amorosa, a único recurso que sobra é apelar ao vetusto filósofo Pranchú, que, em tempos de bagaceira universal, sempre possuía um discurso sereno e tranquilo para as benesses da vida:
            - Nasci careca, pelado e sem dente. O que vier é lucro!
            Assim falou Pranchú!

Um comentário:

  1. O matuto, menos incisivo, contornaria: "moça, se não dá, pelo menos impresta, devorvo dispois du dia 21"!!!

    ResponderExcluir