A mulher chega do trabalho, coloca seu paletó estilizado em cima do sofá e descansa um pouco enquanto a janta não está pronta. Sendo uma mulher de negócios, independente, a forca motriz de seu lar, tem empregadas (ou como se diz com eufemismo: "secretárias) para lhe servir. O movimento feminista galgou degraus nunca dantes alcançados no seculo passado entretanto nem todas as mulheres puderam desfrutar disto. A patroa pede um suco de framboesa enquanto aguarda o célebre 'chamado da cozinha' (tá na meeeeeeesa). Pedido feito, pedido atendido e a patroa, confortável em sua chaise, volta a folhear seu livro. Na verdade passou todo o dia ansiosa por este momento: o de voltar aos bracos do senhor Gray.
Degustando seu suco devora página após página do livro que não deixa a capa a mostra, pois tem uma filha de 15 anos e que, naturalmente, não pode conhecer ainda "as dores do amor". Em uma família tradicional esta menina nao deveria nem mesmo saber o que é o amor no sentido discutido neste texto. Entretanto hoje em dia não seria nenhum absurdo uma menina de 15 anos ser capaz de descrever todos o pormenores de um intercurso sexual. Talvez acharia nojento. Há quem diga que o sexo é nojento. Por isso sua mãe a preserva com pudor justificável.
Mas o que tem demais este livro ? Lembremos que o Marquês de Sade já ruborizou a humanidade há séculos. A sociedade olhou para si mesma e viu que o que se fazia entre quatro paredes era bem mais que o classico papai-mamãe, posição pela qual os Neandertais geraram os Homo Sapiens. Sade mostrou que a Alcova pode ser criativa e dolorosa, e como já foi dito, há anos. O papai-mamãe já foi extinto e talvez hoje só seja praticado por jovens ofegantes dentro de automóveis, ditas 'alcovas ambulantes' ou, por que não, 'alcovas móveis'. O inconsciente coletivo quer apagar o papai-mamãe da memória. O sexo exige a criatividade ! E como disse o profeta marroquino Ali al Baba Lu: faça o sexo, pois o sexo fez você. Tambem lembremos o tom revolucionário de Che Guevara quando parafrazeamos suas palavras na assertiva: Hay que trepar sin perder la ternura ...
Certamente esse livro não traz nada de novo. O que é inedito sim é o fluxo da demanda sexual. Ele não parte apenas do homem. O menino no processo de se transformar em homem feito forja sua experiência atraves do onanismo. São anos de sangue, suor e lágrimas. Este processo era feito de forma solitária em época de repressão sexual. Hoje este processo é feito a dois, três e com vagas abertas para mais. Tem-se uma geração onde o onanismo, antes respeitado e considerado ritual de transição, é tido como um mero fetiche. O camarada está enjoado de suruba e bate uma punheta 'just for a change'. A menina antes privada de tudo hoje escolhe todas as letras do abecedário sexual com quantos parceiros lhe convier.
Hoje quem bota as cartas na mesa nao é mais o homem, antes o unico conhecedor do jogo da sedução. O livro 50 tons de cinza mostra que o fluxo do desejo sexual mudou de direção: mulheres semi vestidas em pedaços de couro portando instrumentos medievais para o acoite sexual e os homens, trêmulos e acuados na quina de um quarto, apenas de cueca. Entretanto os que entendem da palavra de Pranchú sabem que esta situação, que deveria ser igualitária, está desfavorável ao macho.
Voltemos ao livro da patroa. Como podemos analisar esta pérola literária à luz da filosofia pranchuriana ? Segundo esta corrente filosófica tudo não passa de uma farsa. Toda atitude descrita em um livro onde a mulher sente prazer levando chicotada na xereca é um embuste. Este 'neo sado masoquismo' nao sobrevive ao teste do cuzinho, ou seja, quer sentir dor e prazer ? Larga esse moi de couro e chicote, minha filha, e vira o cuzinho ! Porque levar xicotada no livro pode ser bonito, mas na vida real poucas gostariam ! Ou como estão eternizadas as palavras de Pranchú na pedra do Ingá:
"Tem gente que quer ser viado com o cú dos outros"
Assim falou Pranchú !
Gostei da abordagem sábio Pranchú! É o velho "Quem tem cú tem medo", hehehe.
ResponderExcluirPranchú, não li este livro, mas percebi o seguinte:só vejo mulher lendo, e os homens que leêm não são 'lá estes homens todos....'
ResponderExcluirHahahahaha, sábias palavras do Mestre Pranchú.
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