segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O ELO PERDIDO





    Desde os primórdios até hoje em dia o homem ainda faz o que o macaco fazia, ou seja, ele fede. O homem adulto explode em uma proliferação infinita de pêlos que , como resultando de sua labuta diária, cria a fedentina. Sempre foi assim. E foi pior, até que com o advento do sabonete a fedentina se transformou na famigerada nhaca. Se o sabonete é bom a nhaca não ofende o olfato. Se o sabonete é ruim ele dá vazão ao cheiro sobre o qual se conclui: 'há um macaco mal lavado no recinto' ! 
    Pois bem, até o sabonete a humanidade de fato evoluía. Por ter a mulher como inspiração para tudo, aparatos químicos foram criados para que estas encobrissem seus odores, digamos, nada nobres. A eterna busca da fonte de juventude contida em um recipiente de cinquenta reais para nossas musas inspiradoras fez eclodir uma série de produtos em forma de creme, líquido e pó para que a mulher da vida real ficasse mais perto daquela idealizada no amor platônico. Em nossos sonhos infanto-juvenis a mulher platoniana flatula Leite de Rosa e tem um bafo de capim santo. Em termos de higiene pessoal a humanidade achou o elo perdido: o sabonete para o macho e demais produtos para a mulher.
    Muitos dirão 'mas isto é um exagero' ! O homem também usa shampoo ! Errado. E  utilizo exemplos para provar que o uso do shampoo pode ter sido o começo do fim. Perguntando ao meu avô como é possível ter uma cabeleira e um bigode brancos, de textura leitosa, ele responde sem titubiar: 'sabão de côco, abestado' ! No ímpeto de  perguntar ao meu pai se ele usa shampoo sua calvície me faz calar, impedindo uma questão estúpida. Portanto ou o macho usa sabão de côco ou é calvo. O shampoo foi portanto o começo desta derrocada. 
    Não se sabe ao certo mas estatísticas podem provar (sim ! as estatísticas são as damas de companhia dos argumentos) que tudo começou quando um menino (não se sabe qual, não se sabe mesmo se foi apenas um, não se sabe de porra nenhuma) entrou nos aposentos de sua mãe enquanto ela estava na cozinha e começou a vasculhar os produtos alquímicos embelezatórios: pó pro rosto, creme pras mãos, batons ... Neste momento (caso o leitor pudesse ver a cena) uma luz saía do estojo de maquiagem e iluminava o semblante  macabro e fascinado daquele garoto. Balbuciando um pensamento disse para si mesmo 'um dia usarei tudo isso ! Abalarei Bangú ! Seu ar compenetrado foi quebrado pelo som que veio da cozinha 'Emanuel * ! vem comer minino' ! Mas a promessa estava feita, um pacto foi selado. O tempo passa e o menino virou homem em uma metamorfose tal qual a de Benjamin Button que nasceu com cara de véi e foi perdendo as pregas. Não apenas shampoo lhe satisfazia mais, precisava também de um creme para alisar cabelos. Do creme capilar 'alisa pentei' foi ao creme hidratante. Do hidratante foi à depilação peitoral. Pronto ! E como o homem do sertão diz quando vaticina a derrota alheia:  Acabou-se o homem ! Surge o metrossexual: este ser que não apenas usa tudo e mais um pouco o que sua mãe usava como também faz as unhas e desperdiça preciosas horas no cabelereiro. Aliás tocamos em um assunto que será abordado em um texto vindouro: o cabelereiro tomou o lugar do barbeiro, mas não nos desviemos do assunto...
    A humanidade achou o elo perdido entre o homem e o macaco. O metrossexual perdeu o elo, ou o aro e sobrepôs uma linha evolucionária sobre outra, ou como se diz no sertão,  acaraiou ** tudo. O que a lei da natureza aprimorou por milênios o metrossexual derrubou em menos de uma década. Se a década de oitenta ficou conhecida como a década perdida, a da ascensão metrossexual será conhecida como a década da rosca perdida. E é quando a humanidade se distancia de seus preceitos é que a História surge como tábua de salvação. É de lá que tiramos o consolo (sem referência ao consolo de borracha) ao refletirmos sobra as sábias palavras de Pranchú:

     "Homem que é homem tira o sebo do pau e come" 

    Assim falou Pranchú !

* o nome Emanuel é puramente ilustrativo. 
** acaraiou do verbo acaraiar. Do latim acaraialium utilizado pela primeira vez quando Nero decidiu tocar o foda-se em Roma e disse 'tô puto, vou acaraiar com essa cidade , porra'.

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